O BPI parece poder finalmente respirar de alívio. O rating da instituição financeira é o mais alto entre os bancos portugueses e até da República portuguesa. A Fitch elevou o rating do BPI de ‘BB’ para ‘BBB-’, uma notação financeira que já está fora da categoria de ‘lixo’. A melhoria, de dois níveis, surge depois de o CaixaBank ter passado a controlar 84,5% do capital do BPI, na sequência da oferta pública de aquisição (OPA) onde investiu 644,5 milhões de euros. A agência de notação financeira veio também destacar o investimento feito pelos banco catalão, o que mostra que Portugal é um mercado estratégico para o Caixabank.
Esta operação recebeu também elogios por parte do analista da XTB, Tiago da Costa Cardoso, ao afirmar que «já existem efeitos positivos decorrentes deste negócio com a própria Fitch a tirar o banco de ‘lixo’ para ‘rating de investimento’», revela ao SOL e lembra que com este negócio, o BPI passou a pertencer a um dos maiores grupos bancários europeus.
E apesar de admitir que «ser uma filial do banco espanhol tem uma conotação um pouco negativa», admite que, na prática é isso que vai acontecer. «O Caixabank passa a explorar o potencial que Portugal apresenta neste setor e o BPI passa a pertencer a um grande grupo, no qual beneficia de sinergias várias», acrescenta.
Mas as novidades desta operação não ficam por aqui. Para já, o banco vai continuar cotado na bolsa de Lisboa, mas saiu do índice PSI 20 devido à concentração de muito capital num só acionista. «As ações negociadas em bolsa serão apenas de 7% do capital da empresa, daí não se justificar que permaneçam no principal índice português», acrescenta o responsável. Aliás, o índice das principais empresas cotadas passou a contar apenas com 17 títulos representados.
Nova liderança
Com novo acionista surge também uma nova liderança. Pablo Forero foi o nome escolhido pelo CaixaBank para liderar a instituição financeira, sucedendo assim a Fernando Ulrich que, após 13 anos à frente do banco, passa a chairman, cargo atualmente ocupado por Santos Silva, que ficará como presidente honorário do BPI.
Formado em economia na Universidade Autónoma em Madrid, com especialização em Macroeconomia, o atual diretor-geral do CaixaBank tem uma carreira ligada ao setor financeiro. Em 2013 foi nomeado diretor-geral da área de risco, cargo que ocupou até dezembro de 2016. Pablo Forero conta ainda com uma longa experiência internacional, tendo trabalhado 11 anos em Londres como responsável da sociedade JP Morgan Asset Managemen.
Fernando Ulrich, o ainda presidente do banco, justificou a sua decisão de abandonar funções executivas considerando que, nesta nova fase, o BPI deve ser liderado por alguém do CaixaBank, que conheça o grupo, desvalorizando ainda a questão da nacionalidade do novo CEO.
Na comissão executiva vão ficar José Pena do Amaral, Pedro Barreto e João Oliveira Costa. Celeste Hagaton, a única mulher no conselho, e Manuel Ferreira da Silva também comunicaram que não querem fazer um novo mandato. Estes gestores estiveram na comissão executiva 18 e 16 anos, respetivamente. Entram neste órgão Alexandre Lucena e Vale, António Farinha de Morais e Francisco Manuel Barbeira, para além de Ignacio Álvarez-Rendueles e Juan Ramón Fuertes. Os nomes agora propostos para os novos órgãos sociais do banco vão ser, no entanto, sujeitos às necessárias autorizações das entidades de supervisão.
António Lobo Xavier vai subir a vice-presidente do conselho de administração do BPI. Já Mário Leite Silva, administrador da Santoro de Isabel dos Santos, Carlos Moreira da Silva e Armando Leite de Pinho deixam a administração do banco.
A nomeação de Pablo Forerorompe com uma certa tradição dos investimentos espanhóis de alguma dimensão em bancos portugueses. Exemplo disso, foi o que aconteceu com o Totta, comprado pelo Santander em 2001, que sempre foi liderado por gestores portugueses: António Horta Osório, Nuno Amado e Vieira Monteiro.
O mesmo aconteceu com o Banco Popular em Portugal que foi liderado por Rui Semedo até à sua morte em 2015 e o Bankinter – que comprou a rede Barclays – que escolheu um quadro português do Barclays, Carlos Brandão.
Saída de acionistas
Com a conclusão da OPA saíram alguns acionistas de referência. É o caso da Santora, de Isabel dos Santos, que detinha 18,6% do BPI.
Esta venda surgiu depois de um longo braço de ferro com o grupo catalão, e depois de o BPI ter cedido o controlo do Banco de Fomento Angola (BFA) a Isabel dos Santos. Quem também alienou a sua posição foi o BIC, igualmente controlado pela filha do presidente angolano.
Já o grupo Violas vendeu a maior parte da sua posição, ficando apenas com 10 mil ações da instituição financeira, mas já ameaçou avançar com um processo contra a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários por ter autorizado uma oferta que «não é equitativa para todos os acionistas».