Os utentes do Serviço Nacional de Saúde estão globalmente satisfeitos mas a maioria sente que há uma nuvem a pairar sobre a qualidade dos serviços: o Estado não investe o necessário.
Um estudo de opinião realizado pela Consulmark2 para o SOL revela que 54% dos inquiridos consideram que o investimento público em saúde no país é insuficiente. Se fossem responsáveis pela pasta e tivessem 100 euros para repartir, o reforço do pessoal ganhava, com um ‘cheque’ de 38,40 euros. Seguia-se, muito perto, o investimento em meios de diagnóstico e medicamentos (36,70 euros) e, em terceiro lugar, o reforço das infraestruturas (24,90 euros).
A partir desta edição o SOL publicará mensalmente um barómetro sobre saúde para medir o pulso ao estado de satisfação com a oferta de saúde no país mas também para perceber qual a opinião dos portugueses sobre os temas, mais e menos fraturantes, que dominam o debate público.
Nesta primeira edição, que contou com duas vagas de inquéritos em janeiro e em fevereiro, o estudo foi feito, em cada ronda, junto de cerca de 400 utentes do Serviço Nacional de Saúde no último ano.
Os dados revelam que mais de metade dos inquiridos que admitiram recorrer aos serviços públicos de saúde tinham-no feito nos três meses anteriores à entrevista da Consulmark2, o que atesta alguma regularidade na utilização do SNS.
Com o volume de consultas e urgências registadas no país, nem poderia ser de outra forma: o SNS garante mais de 12 milhões de consultas médicas por ano e mais de 6 milhões de atendimentos nas urgências só nos hospitais.
Já os centros de saúde – onde se praticam os chamados cuidados primários – disponibilizam por ano mais de 28 milhões de consultas, qualquer coisa como 53 consultas por minuto – o que por pouco não dá uma consulta por segundo. Além disso, garantem mais de 20 milhões de consultas de enfermagem.
De acordo com o barómetro, as consultas são precisamente o que os utentes mais procuram no SNS, seguindo-se urgências e exames e tratamentos.
No que toca a avaliações, a maioria diz que o tempo de espera correspondeu ao esperado e são tantos os que consideram que o atendimento foi mais rápido do que antecipavam como aqueles que entendem que a resposta demorou mais do que estavam à espera. Nestas perguntas de avaliação apenas se consideraram as opiniões expressas já que as percentagens de «não sabe» são residuais.
Quando se trata de avaliar a qualidade, o consenso é maior. Quase oito em cada dez inquiridos (76%) consideram que o serviço prestado foi bom ou excelente e só 4% dão nota negativa. Pesando todas as variáveis, este primeiro estudo de opinião feito para o SOL revela que os utentes dão uma nota de 15,1 ao SNS.
A cinco pontos da excelência
Com caminho a percorrer, mas bem posicionado, o barómetro mostra que o SNS tem mais utilizadores que o recomendariam a terceiros do que críticos.
Ainda assim, há um sinal de alerta. Apenas 30% dos utentes do SNS refere ter ido a um hospital ou clínica particular no último ano mas entre estes utilizadores de ambos os sistemas, os serviços particulares parecem ser um pouco mais valorizados: são mais os promotores da oferta privada e menos os críticos.
A dificuldade em conseguir aviar medicamentos à primeira é outra constatação – 13% tiveram de regressar mais tarde à farmácia para levantar a medicação, um dado que vai ao encontro dos estudos que têm sido feitos sobre o desabastecimento do setor. A baixa das margens retiraram liquidez às farmácias que têm dificuldades em gerir stocks. Por outro lado, o embaratecimento dos medicamentos no país nos últimos anos aumentou a exportação paralela de fármacos, que acontece quando os distribuidores enviam produtos que estavam destinados ao mercado nacional para o estrangeiro, onde conseguem obter melhores margens de lucro.
O apelo a maior investimento público na saúde conclui este primeiro estudo de opinião. Entre os inquiridos, 54% consideram o financiamento atual insuficiente, contra 46% que entendem que as transferências do Estado para a Saúde são adequadas.
A diferença pode ser pequena, mas aumentou entre a primeira aplicação do inquérito em janeiro e a segunda em fevereiro.
Nos últimos meses, não têm faltado apelos públicos para que o orçamento da Saúde seja reforçado. Os bastonários do setor, dos médicos aos enfermeiros e farmacêuticos, uniram-se para pedir um reforço de 1,2 mil milhões de euros por ano, para que o financiamento da Saúde em Portugal passe a nivelar com a média da OCDE.
Em 2015, último ano com dados disponíveis, a despesa pública em saúde rondou 5,8% do PIB quando a média da União europeia é de 6,7%. A nível europeu, os países alocam em média 14% dos seus orçamentos à prestação de cuidados de saúde. Em Portugal, a fatia é de 11,9%.
Este ano, o Serviço Nacional de Saúde terá um reforço de 73 milhões de euros face à execução do ano passado – muito aquém do que defendiam os bastonários. O governo prevê um défice de 248 milhões de euros no final do ano, depois de em 2016 o ‘buraco’ ter sido de -199 milhões de euros. Não é ainda público o plano de reequipamento tecnológico do SNS para o período 2017-2019 que o ministério anunciou no final do ano. O objetivo é reforçar o investimento e substituir equipamentos obsoletos nos hospitais.