Uma previsível mudança dos ventos levou ontem as autoridades a reforçar o alerta à população de Setúbal. O fogo num armazém de enxofre, que deflagrou na madrugada de terça-feira, ainda não estava extinto ao final do dia de ontem. O risco de maior exposição ao fumo tóxico levou a Direção-Geral da Saúde (DGS) a recomendar que crianças, idosos e portadores de doenças crónicas permanecessem em casa pelo menos até à manhã desta quinta-feira. Entretanto, por instruções da Direção-Geral do Ambiente e da DGS, a proteção civil municipal determinou também o encerramento de todas as escolas do concelho durante o dia de hoje.
Fonte do Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros confirmou ao i que foram as previsões meteorológicas a precipitar o novo alerta à população numa altura em que o fogo no armazém da Sapec estava já há várias horas em fase de rescaldo. Até aqui, o vento tinha levado o fumo na direção oposta de Setúbal e das localidades mais próximas da zona industrial da Mitrena.
As recomendações à população foram feitas numa conferência de emergência convocada durante a tarde pela DGS, onde o diretor-geral da Saúde justificou a iniciativa com a obrigatoriedade, pela legislação europeia, de manter a população informada neste tipo de eventos. Francisco George deixou avisos aos grupos mais vulneráveis da população, mas desaconselhou também a prática de exercício físico ao ar livre no concelho de Setúbal. “Há aqui que evitar a permanência no exterior ou fazer esforços ao ar livre, evitar que a respiração fique acelerada”, acrescentou o diretor-geral da Saúde.
Anabela Santiago, responsável pela divisão de saúde ambiental da DGS, explicou ao i, na terça-feira, que a exposição a dióxido de enxofre pode causar, em níveis mais moderados, irritação ocular e na garganta. Em maiores níveis pode provocar náuseas e cefaleias.
Questionado sobre se houve registo de complicações de saúde entre civis, Francisco George referiu apenas intoxicações entre as pessoas que estiveram mais perto do incêndio, nomeadamente bombeiros. Recorde-se que, na terça-feira, cinco bombeiros precisaram de ser hospitalizados por queimaduras ligeiras e inalação de fumo.
Ontem, ao final do dia, o fogo continuava a ser combatido por 20 homens e 13 veículos. A operação de rescaldo, que se iniciou pelas 10h30 de ontem, consiste na demolição do armazém da Sapec onde estava guardado o enxofre que se incendiou. À medida que o armazém é demolido, é despejada areia por cima do enxofre para parar a combustão. O armazém tem 120 metros de comprimento e ontem, ao início do dia, os trabalhos iam em metade. Não foi feito um novo balanço até ao fecho da edição. A Sapec utiliza enxofre na produção de herbicidas. O grupo comercializa também esta matéria-prima para outras indústrias.