A minha luta privada contra Khadaffi

Uma leitora e comentadora habitual, a sempre encantadora TBrites, fez-me lembrar de um episódio que me fez compreender que tudo o que fazemos na net é controlado. 

Estávamos em 2011, em plena primavera árabe, os regimes tunisinos e egípcio já tinham caído, e a Líbia estava mergulhada numa guerra civil, com a revolta no leste do país a ser brutalmente reprimida pelas tropas leais ao ditador Khadaffi.

Foi um conflito sangrento. À medida que os massacres se sucediam comecei a escrever sobre essa guerra civil na rede social/profissional Linkedin. As minhas mensagens, sempre em inglês, eram do estilo “Parem com estes massacres.” Apelos à paz. Até que um dia me chateie e escrevi um texto diferente.

Escrevi um texto ameaçador para as tropas leais a Khadaffi, que dizia resumidamente o seguinte: vocês estão totalmente cercados, e vão perder esta guerra. Eu, se estivesse, no vosso lugar, tinha duas preocupações: manter-me vivo, e evitar ser julgado, após a vossa derrota, por crimes de guerra.

Como gosto de escrever, no mínimo, um texto por dia, no dia seguinte escrevi um dos textos mais típicos, do tipo “parem com estes massacres”. Para minha surpresa, passadas poucas horas este texto foi apagado, o que nunca tinha acontecido antes, e ficou lá o texto ameaçador para as tropas de Khadaffi. Não escrevi mais.

A minha hipótese é que alguém, algures, achou o texto ameaçador mais eficaz do que apelos bem-intencionados à paz, e quis que o primeiro ficasse em destaque. Foi nessa altura que me apercebi que tudo o que escrevemos na net é controlado. Normalmente essa forças não intervêm, a não ser que achem que estamos a fazer algo útil ou perigoso. Se for para derrubar tiranos sanguinários, por mim tudo bem.