Costa e Centeno em contramão…

Diz o povo na sua imensa sabedoria que ‘o que nasce torto tarde ou nunca se endireita’. O Governo monocolor de António Costa nasceu de ‘procriação assistida’ pelos comunistas do PCP e do Bloco. Esta espécie de solução de ‘barriga de aluguer’, fruto da má relação de Costa com a vontade expressa pelo eleitorado nas…

Um ano e pouco depois, apesar de amparado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa – com Arménio Carlos sempre à espreita –, o Governo fraqueja, enreda-se e tropeça em si próprio, enquanto o primeiro-ministro passa pelo opróbrio de ser acusado frontalmente por Assunção Cristas de mentir no Parlamento.

O hemiciclo tem estado ao rubro. E, embora Costa pareça de borracha – como já se vira nos frente-a-frente com António José Seguro –, não há memória de um primeiro-ministro se comportar assim na tribuna do Governo, como se fosse o líder da oposição.

Os papéis parecem trocados. Passos Coelho fala da bancada como se fosse primeiro-ministro. E este reage como se nunca tivesse saído da oposição. Salta-lhe ‘o pé’ para um tom comicieiro, que lembra irresistivelmente José Sócrates.

Apesar de tudo, por essa altura ainda os deputados poupavam a figura do primeiro-ministro. Em vez de «mentiroso», suavizavam o discurso com eufemismos, como «inverdades». Agora não. A mentira borbulha à flor da pele. Não é bonito de se ver.

Assunção Cristas tem vindo a revelar uma acutilância inesperada. Fá-lo com um vigor que, em pouco tempo, logrou impor-se e fez esquecer Paulo Portas.

E é neste ponto que se nota a diferença entre Portas e Francisco Louçã. Este, ao contrário de Portas, não quis ser substituído na liderança. Apenas criou ‘biombos’ para simular uma saída de cena, a começar na bizarra solução bicéfala. Um afastou-se. O outro fingiu afastar-se e vem a palco quando lhe convém.

Há, entretanto, uma novidade mediática que promete trazer dores de cabeça aos políticos apostados na falta de memória coletiva. O fact checking está a deixar os nervos em franja a muito boa gente.

Ainda há dias, o inefável eurodeputado do PCP João Ferreira desafiou um jornalista da SIC a provar o envolvimento, no passado, de responsáveis comunistas a pedirem a cabeça de ministros. Em causa, o atual silêncio cúmplice do PCP perante as trapalhadas de Mário Centeno.

O jornalista não perdeu tempo e, em menos de 24 horas, demonstrou, sem dificuldade, o comportamento reincidente do PCP reclamando em anteriores governos a demissão de ministros.

Ao eurodeputado saiu o tiro pela culatra. Claro que, se tivesse um módico de pudor, não voltava às televisões. Mas lá voltará sempre, a mando e com os recados do Comité Central.

 

Por seu lado, o jornal digital Observador promoveu também um exercício de fact checking com António Costa e Centeno. O resultado do teste ficou entre o ‘errado’ e o ‘enganador’. O escamoteamento ficou à vista.

Dias depois, era Marques Mendes a revelar na SIC que o famoso decreto-lei que retirava a Caixa Geral de Depósitos do perímetro público fora ‘congelado’ durante um longo período, com o Governo a adiar a sua publicação em Diário da República por mais de um mês, após a promulgação presidencial.

Contas feitas por Mendes, o adiamento terá servido para apanhar os deputados de férias. A explicação dada por Costa para o ‘veto de gaveta’ foi tão patusca e descosida que ofende a mais meridiana inteligência. Tudo muito feio.

Tão feio como o «erro de perceção mútua» invocado por Centeno para justificar o injustificável com o ex-presidente da CGD.

Os políticos que se cuidem, mesmo que contratem bloggers com chorudas avenças para zurzirem nas oposições… A vida dos ‘patrulheiros de serviço’ está a ficar complicada.

Por muito que custe a Marcelo Rebelo de Sousa – que em entrevista ao El País ainda admitiu que «a coligação das esquerdas superou as expectativas» –, os sinais de nervosismo apontam, pelo contrário, para o esgotamento da ‘geringonça’. A história da Caixa queima. Ao recusarem a divulgação dos emails e sms trocados entre Domingues e Centeno, as esquerdas ‘perderam a face’. E mostraram os seus medos.

António Costa e Mário Centeno foram apanhados em contramão. O folhetim das intermináveis polémicas da CGD está a fustigá-los.

A conferência de imprensa do ainda ministro das Finanças meteu dó. Lembrou a triste figura de Teixeira dos Santos quando, mudo, acompanhou Sócrates em 2001 no anúncio da troika. Com a corda ao pescoço.

O Presidente também errou e distanciou-se, com um comunicado em código. Foi castigado pelos primeiros azedumes vindos de gente do PS, aflitos com Centeno a cair da tripeça. Talvez interiorize, finalmente, que já se envolveu e falou demais.