O jogo de paciência que se desenrola em volta da cidade iraquiana de Mossul, desde o final do ano passado, conheceu este domingo uma nova etapa, que poderá muito bem vir a ser a última. Pelo menos é isso que esperam as forças do exército do Iraque, que lideram a operação militar de reconquista do último bastião do grupo terrorista Estado Islâmico no país, responsáveis por esta ofensiva final, que tem como objetivo tomar o lado ocidental da segunda maior cidade iraquiana.
“Anunciamos o início de uma nova fase na operação [de reconquista]: vamos até [à província de] Nineveh para libertar o lado ocidental de Mossul. As nossas forças irão dar início à libertação dos civis do terror do Daesh”, confirmou o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, citado pela Al-Jazeera, num anúncio televisivo, transmitido nas primeiras horas de hoje.
O início da reconquista da totalidade de Mossul – um local estratégico de acesso a algumas das principais reservas de petróleo do Iraque, caído para as mãos dos terroristas em junho de 2014 – teve início em outubro de 2016 e envolve, para além das forças militares iraquianas, combatentes peshmerga curdos, milícias xiitas e tribos árabes sunitas, que contam ainda com o apoio aéreo e logístico, liderado pelos EUA.
Os avanços foram relativamente rápidos durante o primeiro mês, nos arredores da cidade, mas à medida que os reconquistadores se começaram a aproximar do centro de Mossul, o ímpeto inicial foi dando lugar a uma longa e fatigante batalha, que testemunhou poucas conquistas territoriais ao Estado Islâmico, até ao início de 2017. Em meados de janeiro, o exército iraquiano logrou, finalmente, voltar a avançar e acabou por retomar o controlo da totalidade dos bairros situados na margem oriental do rio Tigre, que divide a cidade em dois.
Uma vez que todas as pontes que ligavam as duas margens do rio foram destruídas, o avanço das tropas rumo ao lado ocidental de Mossul e à sua zona histórica, está a ser levado a cabo na região sul, tendo como primeiro alvo o aeroporto.
Segundo um correspondente da BBC, que se encontra no terreno, milhares de veículos militares, apoiados pela força aérea, avançaram e retomaram, este domingo, as vilas de Athbah e Al-Lazzagah, situadas a sul daquele alvo, que esperam reconquistar nos próximos dias. Mas o avanço adivinha-se difícil, já que o centro histórico de Mossul tem ruas estreitas e labirínticas, que prometem dificultar o avanço dos tanques e das tropas iraquianas, que ainda têm pela frente uma oposição composta por cerca de 5 mil terroristas.
Antes de se dar início ao assalto final a Mossul, a aviação iraquiana já tinha largado milhares de panfletos sobre a cidade, ordenando a rendição dos combatentes dos Daesh e apelando aos civis para se abrigarem. De acordo com a organização humanitária “Save the Children”, calcula-se que ali se encontrem mais de 650 mil civis, incluindo 350 mil crianças. “Adivinha-se uma decisão aterradora para as crianças que se encontram em Mossul ocidental: bombas, fogo-cruzado e fome, se ficarem; ou execução e francoatiradores, se tentarem fugir”, lamentou Maurizio Crivallero, diretor da organização no Iraque, citado pela BBC.
A ONU acredita que, entre meados de outubro de 2016 e o final de janeiro de 2017, mais de mil pessoas perderam a vida em Mossul, sendo que metade desse número reporta-se a civis. Outras 700 ficaram feridas, vítimas da batalha de reconquista.