O tribunal militar israelita que no mês passado já se tinha decidido pela condenação do soldado Elor Azaria, pelo crime de homicídio de um palestiniano de 21 anos, divulgou esta terça-feira a pena que sobre ele recairá. O israelita terá então de cumprir 18 meses de prisão, um período bem menor que o máximo de 20 anos previsto na lei para aquele tipo de crime, e igualmente inferior ao pedido de três a cinco anos, solicitado pelos procuradores.
A duração da pena provocou enormes protestos junto ao tribunal e reações de desalento juntos dos familiares da vítima. “Um ano e meio [de prisão] é uma piada, estão a rir-se na nossa cara”, lamentou o pai de Sharif, citado pela BBC. “Se lançarmos uma pedra levamos com dois anos, mas o soldado [israelita] assassinou e apenas recebe um ano e meio”, acusou.
Jamal Zahalka, um deputado israelo-árabe no Knesset, partilha da mesma opinião e defende que Azaria deveria ter sido condenado com “prisão perpétua”. Em declarações à Al-Jazeera, Zahalka relembrou ainda que “há milhares de outros soldados que mataram palestinianos e nem sequer foram julgados”, pelo que entende que este julgamento e o seu desfecho apenas “legitimaram” o estatuto “criminoso” de todo o Estado de Israel.
Segundo as conclusões dos juízes, a redução da pena teve que ver com o facto de ser a primeira condenação de Azaria. Por outro lado, a justiça entendeu que, apesar de tudo se ter passado no âmbito de uma operação militar, o soldado não tinha ordens claras e predefinidas para atuar.
O caso remonta ao dia 24 de março do ano passado, quando dois palestinianos – Sharif e Ramzi Aziz al-Qasrawi – atacaram um grupo de soldados israelitas, em Hebron, na Cisjordânia, e feriram um deles. Os militares responderam com rapidez e dispararam sobre os agressores, matando Qasrawi e ferindo Sharif, que ficou imobilizado no solo. A agressão fatal chegou ao debate público após a divulgação de um vídeo, levada a cabo por um grupo de ativistas israelitas, onde se podia ver Azaria a abater o ferido, à distância, com um tiro na cabeça, numa altura em que as equipas de emergência médica já se encontravam no local.
O condenado defendeu-se, dizendo que suspeitava que o palestiniano tinha um cinto de bombas e que, por essa razão, disparou a sua arma, mas os juízes concluíram que o ferido não representava uma “ameaça imediata”. Para além disso, valeram-se do testemunho de outro militar israelita que estava no local, e que refere que Azaria proferiu a seguinte frase, antes de disparar: “Eles esfaquearam o meu amigo e tentaram matá-lo – ele merece morrer”.
A divulgação das imagens provocou enorme polémica e originou diversos protestos nas ruas de Israel e da Palestina. Enquanto em Telavive se exigiu, durante largos meses, a libertação do soldado, nos territórios palestinianos gritou-se por justiça e condenou-se a atuação excessivamente agressiva dos militares israelitas.
Perante o impacto do caso na opinião pública de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e outros políticos de renome vieram mesmo a terreiro defender um perdão para Azaria, pese os inúmeros depoimentos de militares de topo do exército israelita, que acusaram o soldado de violação do código militar, uma vez que a sua atuação não se enquadrou nos valores das forças armadas de Israel.