A venda do Novo Banco pode estar iminente. Sinal óbvio é o processo já não estar nas mãos do Banco de Portugal (BdP). O regulador, responsável por gerir o Fundo de Resolução, deixou de estar envolvido nas negociações com a Lone Star a partir do momento em que tudo passou para as mãos do Ministério das Finanças.
A passagem de todo o processo para as mãos do Executivo de António Costa estava prevista desde que, a 17 de fevereiro, o Governo foi informado da recomendação, ainda que não vinculativa, do BdP para que as negociações em exclusivo com a Lone Star avançassem. Agora, nesta fase final do processo negocial, haverá ainda negociações com Bruxelas.
Ainda assim, o facto de podermos estar perto da conclusão de todo o processo não tem afastado novos interessados.
Depois de há poucos dias o fundo Aethel Partners ter apresentado uma proposta de última hora, apareceram, de acordo com o Jornal Económico, mais fundos interessados na instituição bancária, nomeadamente, o Cerberus.
Mas afinal o que levou a este novo despertar de atenções? Segundo fontes ligadas ao setor, o principal fator é o valor a que estará a ser negociado o banco.
No mês passado, já se conheciam as linhas gerais da negociação, mas faltava saber quanto é que a Lone Star estava disponível para pagar ao Fundo de Resolução para ter o controlo do Novo Banco. De acordo com fontes, citadas pelo Eco em fevereiro, seria uma quantia simbólica. Isto porque as condições de compra teriam mudado no momento em que Mário Centeno fez saber que não poderia existir no negócio garantias por parte do Estado.
O ministro das Finanças chegou mesmo a avançar, já no final do mês passado, que foi considerada a venda parcial: «Há diferentes carris negociais que o Banco de Portugal tem trilhado». Em cima da mesa passou então a estar também a possibilidade de uma compra conjunta [por parte da Lone Star e do Estado] de ações do Novo Banco ao Fundo de Resolução. No entanto, a maioria do capital terá sempre de ficar na posse do fundo norte-americano.
Aethel Parterns em destaque
A carta de intenções enviada pela Aethel Partners, de Ricardo Santos Silva e Aba Schubert, previa um valor de oferta que ascendia aos três mil milhões de euros, mas deixava espaço para um aumento de capital na ordem dos mil milhões. No entanto, o interesse não era novo e a história e as ligações da Aethel Partners rapidamente despertaram interesse.
Até porque, para concorrer ao Novo Banco, a Aethel Partners criou, há cerca de dois meses, uma outra sociedade (a Aethel Limited), à margem da Pivot SGPS, onde há uma parceria com Miguel Relvas – uma empresa que foi escolhida para comprar um banco do universo BPN.
A pergunta que rapidamente se colocou foi: quem é a Pivot e a Aethel? Começando pelo início: estávamos em 2015, quando o Estado mostrou estar muito perto de vender o banco Efisa – banco de investimento do ex-BPN – à Pivot, detida pela Aethel Partners. Entre outros investidores, a Pivot contava com Ricardo Santos Silva (cofundador da Aethel, ex-BBVA e ex-BESI, hoje Haitong), Aba Schubert (ex-Eton Park) e Mário Palhares (ex-presidente do Banco Angolano de Investimentos e antigo vice-presidente do Banco Nacional de Angola).
Em dezembro desse ano a venda era dada como efetuada. Multiplicaram-se então notícias a dar conta de que o banco Efisa tinha sido vendido por 38 milhões de euros. No entanto, o ano passado tornou-se amargo para os envolvidos no processo. Já estávamos no final do ano e a Pivot continuava a não ter autorização do Banco Central Europeu para comprar o Efisa. Nesta altura, a empresa tinha ano e meio de vida, mas já perdera sócios. Na estrutura continuavam então Ricardo Santos Silva, Aba Schubert e Miguel Relvas, tendo sido a presença do ex-ministro na Pivot que fez correr muita tinta.
Miguel Relvas chegou a ser chamado ao Parlamento para explicar a ligação ao Efisa. Principalmente porque o Governo, do qual fez parte até 2013, teria injetado cerca de 90 milhões de euros neste banco antes de o vender, o que acabou por acontecer num negócio de 38 milhões.
Agora, com a Aethel Partners a mostrar interesse na corrida ao Novo Banco, veio a lume o reforço que Miguel Relvas fez na Pivot, onde tem já 31,7% da sociedade, que acaba por estar, em parceria com a Aethel, na corrida para tentar comprar o Novo Banco.
Para chegar a esta posição, Miguel Relvas reforçou em 25% a sua posição, sendo que, para isso, comprou ações que pertenciam a Mário Palhares e também a António Bernardo.
Novos interessados
A Cerberus Capital Management, que ao que tudo indica também está de olhos postos no Novo Banco, nasceu em 1992 em Nova Iorque, EUA, e é conhecido no mercado como sendo «um abutre» pelos investimentos que tem feito em empresas em dificuldades ou com dívidas aos Estados. Em Portugal chegou a ser falado pelo seu alegado interesse na TAP.
Em março do ano passado, este fundo de investimento foi noticiado várias vezes por causa do interesse em entrar no capital da operadora de telecomunicações Oi. Um interesse que se mantém até aos dias de hoje e que fez as ações da Pharol disparar em fevereiro deste ano, quando foi noticiado que o fundo deveria estar próximo de apresentar uma proposta.