Os críticos acusam-no de extravasar os poderes presidenciais. Os adeptos da forma como o ex-líder do PSD tem exercido o mandato realçam o contributo que deu para a estabilidade e paz social. Contas feitas, ao fim de um ano, são mais os elogios do que os ataques ao Presidente mais frenético da democracia portuguesa.
ELOGIOS
António Costa
Telefonou a Marcelo a felicitá-lo pelo seu primeiro ano de mandato. «Um ano exemplar», disse o primeiro-ministro, que durante 12 meses nunca fez nenhum reparo à forma como o ex-líder do PSD tem desempenhado o cargo. Pelo contrário. Em Celorico de Basto, no mesmo local onde Marcelo Rebelo de Sousa lançou a candidatura a Belém, o primeiro-ministro aproveitou para «prestar uma homenagem à forma como o Presidente da República tem exercido as suas funções». Costa congratulou-se com o «bom relacionamento» entre o Governo e Belém, porque «é importante, relativamente àquilo que é o interesse fundamental do país, que todos os órgãos de soberania possam ter uma posição alinhada, concertada, que saibam cooperar entre si, que saibam dialogar entre si, porque o interesse do país tem de estar acima do interesse de cada um de nós». No dia em que fez um ano que Marcelo tomou posse, António Costa garantiu que este foi «um ano exemplar de cooperação» e que «o professor Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído positivamente para termos um clima de descrispação, de paz social, que tem sido essencial, a par da viragem da página da austeridade, para criar um novo clima de confiança no país».
Jorge Coelho
Foi um dos principais apoiantes de Maria de Belém na campanha presidencial, mas rendeu-se completamente a Marcelo Rebelo de Sousa. «O país precisava de um Presidente com as características que está a demonstrar ter o prof. Marcelo Rebelo de Sousa e a sua atividade é extremamente positiva para Portugal neste momento que o país está a viver», disse ao i o ex-ministro de António Guterres. Jorge Coelho, que participa semanalmente no programa Quadratura do Círculo, na SIC-Notícias, já elogiou, neste espaço, várias vezes o Presidente da República. Dois meses depois de Marcelo chegar a Belém, o socialista considerou que o ex-líder do PSD «veio criar um ambiente de descrispação na sociedade». Jorge Coelho não tem dúvidas de que «a sua atividade é extremamente positiva para Portugal neste momento que o país está a viver» e «contribuiu para a estabilidade e para que o país esteja melhor». O ex-ministro admite, numa entrevista ao Jornal de Negócios, no início deste ano, que deu «pancandaria da grossa» a Marcelo Rebelo de Sousa, nomeadamente quando era o número dois do governo e o agora Presidente era líder do PSD, mas considera que «está a ser um Presidente extraordinário».
Marques Mendes
Conselheiro de Estado e comentador político que ocupou o lugar que Marcelo Rebelo de Sousa deixou vago quando se mudou para Belém, é dos sociais-democratas que mais têm elogiado o Presidente da República. E um dos seus amigos mais próximos. O ex-ministro de Cavaco Silva congratula-se por Marcelo Rebelo de Sousa estar «a redefinir a função presidencial. Os poderes são os mesmos, mas até parece que foram aumentados. Isso é positivo». Mendes, num comentário na SIC-Notícias, defendeu que Marcelo tem aproveitado os «altíssimos níveis de popularidade» para dar «prestígio à função presidencial, à instituição presidência da República e ao mesmo tempo reforça o poder de intervenção do Presidente da República». Mendes não alinha com os sociais-democratas que se queixam da excessiva colagem de Belém ao governo e até já aconselhou Passos Coelho a não se meter com o Presidente. Passos disse que «ainda bem que ele não é presidente do PSD», Mendes aconselhou-o a não seguir esse caminho, porque «é um mau princípio, é um erro. E mais: «Marcelo é evidentemente uma referência de popularidade, de prestígio, de estatuto, de autoridade, por isso Passos Coelho, numa guerra com o Presidente, perde sempre, como qualquer líder da oposição perderia».
Sampaio da Nóvoa
Foi o principal adversário de Marcelo Rebelo de Sousa na campanha presidencial. Perdeu e só voltou a falar quase um ano depois para elogiar o desempenho do seu adversário. «O ano que passou foi muito positivo para Portugal. E no plano político muito do que aconteceu deve-se à ação do Presidente. Ele teve, por exemplo, um papel junto das instâncias europeias que foi muito importante. Foi um papel que eu teria mais dificuldade em desempenhar, porque não tenho os galões da política nem os conhecimentos que nestas circunstâncias são importantes. Foi um papel que importa sublinhar», disse, numa entrevista ao Público, no início do ano. Mas não ficaram por aqui os elogios ao desempenho de Marcelo em Belém.
O ex-reitor considera que o Presidente da República consegue estar próximo das pessoas e essa postura ajudou a criar «um clima de estabilidade política e de confiança» que é «extraordinariamente positivo» e que «ajudou muito a revitalizar a função presidencial, que estava numa situação difícil». Para trás ficou a campanha eleitoral em que Sampaio da Nóvoa acusava Marcelo de ser alguém que «pode perturbar, e muito, o ciclo político que agora se abriu e que é um ciclo novo».
CRÍTICAS
Santana Lopes
«Marcelo Rebelo de Sousa escusa de fazer de conta que às vezes é primeiro-ministro. Não é. Ele é Presidente da República, são planos diferentes». A frase é de Pedro Santana Lopes, numa entrevista ao Expresso, no final de 2016, em que criticou a «excessiva» proximidade ao governo de António Costa. Não foi a única vez que Santana, que equacionou a possibilidade de apresentar uma candidatura a Belém, se mostrou contra a forma como Marcelo Rebelo de Sousa tem exercido o cargo. Na sua crónica no Correio da Manhã, o ex-primeiro-ministro escreveu que «o Presidente parece ver a realidade nacional com uns óculos cor-de-rosa, correndo mesmo o risco de alguém, um dia destes, o tratar por Marcelo no País das Maravilhas». Foi, porém, a polémica à volta da Caixa Geral de depósitos que levou Santana a afirmar, na SIC-Notícias, que «acabou o estado de graça do Presidente da República». Santana Lopes voltou a aconselhar o Presidente, em fevereiro deste ano, no programa que faz com António Vitorino, a proteger-se e a guardar «uma maior distância» em relação ao governo. «Que tenha cuidado. O Presidente tem que se proteger a ele próprio», disse o ex-líder do PSD, que há muitos anos tem uma relação tensa com Marcelo.
Porfírio Silva
Membro da direcção nacional do PS, não perdeu a oportunidade de disparar contra Belém nos casos mais polémicos. A última vez foi quando o Presidente da República publicou um comunicado em que deixava claro que só aceitava manter o ministro das Finanças em funções «atendendo ao estrito interesse nacional, em termos de estabilidade financeira». Porfírio Silva foi um dos socialistas que se revoltaram contra Belém. «Não basta querer ser Presidente de todos os portugueses para ser um bom Presidente da República. É preciso saber e respeitar os poderes próprios e os poderes dos demais órgãos de soberania». A intervenção do Presidente no caso do teatro da Cornucópia também não agradou a este socialista. Porfírio sugeriu que o Presidente da República «extravasou» os poderes presidenciais quando apresentou uma proposta para evitar o encerramento do teatro. O dirigente socialista também não gostou de ouvir o Presidente dizer que ajudará a promover a estabilidade até às autárquicas, mas «depois das autárquicas, veremos o que é que se passa». Porfírio admitiu que não foi «propriamente uma mensagem muito estabilizadora».
Vital Moreira
O constitucionalista classifica como «insólito» o apoio dado pelo Presidente da República ao governo. «De tal modo que ele aparece por vezes como se fora uma espécie de arauto, procurador ou coach do executivo», escreve, no blogue Causa Nossa, o ex-eurodeputado socialista. Vital Moreira tem escrito vários textos sobre as relações entre Belém e o governo e avisa que «se os ventos mudarem e a situação política se complicar, a excessiva proximidade de hoje pode ser um problema amanhã». O constitucionalista foi dos que mais criticaram o Presidente da República no caso da Cornucópia. Vital defendeu que Marcelo Rebelo de Sousa «fez três coisas que devia cuidadosamente evitar: intrometer-se numa questão concreta do foro governamental, envolver-se num diálogo político direto com um ministro setorial, quando o seu interlocutor institucional é por definição o primeiro-ministro» e «patrocinar uma solução política excecional para um caso concreto, em violação flagrante do princípio da igualdade de tratamento». O ex-deputado socialista considera que o chefe de Estado «não deve evitar somente assumir o papel de primeiro-ministro num teatro, deve também evitar aparecer como treinador, chairman ou maestro do Governo, que ele não é, nem pode ser».
Luís Fazenda
O ex-líder parlamentar do Bloco de Esquerda classificou Marcelo Rebelo de Sousa como «o Presidente das piadas». No início do ano, Fazenda escreveu um artigo de opinião, publicado no esquerda.net, em que critica a interpretação que o chefe de Estado tem feito dos poderes presidenciais. «O Presidente usa o cargo para influenciar a governação e para ter uma participação política ativa em paralelo com os partidos. As competências do Presidente da República estão claramente descritas na Constituição da República Portuguesa. Não consta nela uma espécie de poder executivo a meias com o Governo». O deputado do Bloco de Esquerda fala num «projeto marcelista, embrulhado na retórica de afastar a crispação», que visa o «regresso à alternância dos partidos ao centro». Fazenda avisa que «o Presidente das piadas» não acha «piada nenhuma» a esta solução política e «é adverso a qualquer solução de um futuro governo de esquerda». Fazenda voltou a criticar Marcelo numa entrevista à Antena 1 em que acusou o Presidente de ter desconsiderado «algum tipo de convergência política que existe entre o Governo e os partidos à sua esquerda» no caso da Taxa Social Única (TSU).