O gestor português Carlos Tavares é o rosto que está por detrás de um dos maiores negócios na indústria automóvel, a compra da Opel pela Peugeot, dando origem a um gigante do setor, o segundo maior grupo na Europa. Quatro meses de negociações entre a General Motors (GM) e o Grupo PSA – Peugeot-Citroën foram o suficiente para que a concretização desta operação recebesse luz verde. O principal protagonista desta negociação foi Carlos Tavares, presidente executivo da PSA.
A paixão pelos automóveis esteve sempre na base do sucesso profissional de Carlos Tavares. Até 2013 era o número dois da Renault Nissan, onde esteve 32 anos, mas é nessa altura que chega o convite para liderar o grupo PSA, concorrente da empresa onde trabalhava. Em 2014 mudou de rumo e arregaçou as mangas para abraçar uma nova aposta e uma nova marca. A verdade é que a escolha do gestor português para estar à frente da empresa francesa representou uma quebra na tradição dos 117 anos de história da Peugeot, que sempre escolheu o seu líder através de uma seleção interna.
Carlos Tavares nasceu em Lisboa. Filho de uma professora de Francês e de um representante de uma seguradora em Portugal, estudou no Liceu Francês, na capital, e mudou-se aos 17 anos para o país onde vive hoje, formando-se em Engenharia pela École Centrale de Paris em 1981 – uma das mais conceituadas a nível europeu.
Mas desde cedo que foi fascinado pelo mundo automóvel e chegou a ser comissário de pista no Autódromo do Estoril. “A minha paixão era conduzir carros”, chegou a revelar em entrevista à RTP mas, como admitiu que não tinha talento suficiente para entrar na competição, aproveitou a sua formação para experimentar carros em circuitos. Um dos engenheiros da Renault chegou a admitir ao “Le Monde” que o engenheiro português é um “das poucas dezenas de especialistas mundiais que sabem tudo sobre um carro, desde o desenho à produção, passando pelo marketing”.
A sua paixão pelos automóveis e pelas corridas levou a que fosse apelidado de “car guy”, e ainda hoje não dispensa uma corrida de automóvel aos fins de semana. Tem em casa vários carros clássicos que usa para participar e cuja manutenção é feita pelo próprio engenheiro. Essa loucura chega ao ponto de decorar o gabinete de trabalho com fotografias de carros de competição. Pai de três filhas, é à mais velha, Clémentine, que se deve o nome da equipa pela qual corre: a Clementeam, gerida pela própria mulher.
Mas não é só por isso que é conhecido. Apesar da polémica em torno do seu salário anual de 5,24 milhões de euros, é visto pelas pessoas mais próximas como um verdadeiro “forreta”. E, por isso mesmo, é natural que tenha vendido o avião privado da Peugeot por viajar sempre em classe económica, e usa há 20 anos o mesmo relógio Tissot.
Em 2013 juntou-se ao projeto RodaClássica, negócio de restauro de automóveis localizado em Viseu.
Negócio em números
Mesmo com esta aquisição, a PSA não atinge a dimensão do grupo Volkswagen mas, no entanto, vai conseguir ultrapassar o número de carros produzidos pela Renault, atual número dois do setor na Europa.
Mas vamos a números: a marca alemã tem uma quota de mercado de 23,9%, enquanto a fusão PSA Opel representará uma quota de 16,6%, superando a Renault na segunda posição (10,2% de quota).
O grupo PSA foi o terceiro grupo automóvel com mais vendas em 2016, superado apenas pelo grupo Volkswagen e pelo grupo Renault, segundo os últimos dados da Associação Europeia de Produtores Automóveis (ACEA na sigla original).
A PSA vendeu um total de 1,446 milhões de automóveis em 2016 (menos 0,2%). Ou seja, a Peugeot vendeu 849 mil unidades (+1,4%), a Citroën 532 mil (-1%) e a DS 64 mil (-12,7%). Já o grupo Opel surge na sexta posição com vendas de 928 mil unidades na Europa em 2016 (mais 5,4%). Em separado, a Opel/Vauxhall vendeu 976 mil unidades (mais 5,6%), e a Chevrolet 2,2 mil (-31,2%).