PSD em Lisboa. Da obrigação de vencer à indiferença por perder

Coordenador autárquico assume que é “indiferente” ganhar ou perder, desde que o PS perca

“O PSD tem de ter um candidato em Lisboa que será sempre melhor que Assunção Cristas. E digo-lhe mais: o PSD tem obrigação de ganhar a Câmara de Lisboa”, disse Hugo Soares em entrevista ao semanário “SOL”, em finais do ano passado.

As declarações do primeiro- -vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e homem forte da direção de Passos Coelho incorrem, no entanto, em algum contraste com a circunstância contemporânea dos sociais- -democratas.

Com Teresa Leal Coelho como candidata de último recurso para as eleições autárquicas deste ano em Lisboa, o partido quase se assume mais em disputa pelo segundo lugar – contra a candidatura da presidente do CDS- -PP, Assunção Cristas – do que pela vitória que destronaria Fernando Medina dos Paços do Concelho.

Até o coordenador autárquico do Partido Social Democrata, Carlos Carreiras, fez ontem títulos menos orgulhosos após uma entrevista à rádio noticiosa TSF. “É indiferente se ganha Leal Coelho ou Cristas, desde que o PS perca”, atribuía o “Diário de Notícias” ao coordenador. “Não importa que o CDS fique à frente do PSD… desde que ganhe Lisboa”, remetia também a página da TSF nas redes sociais.

Pensamentos sem dúvida opostos à defesa de um candidato “que será sempre melhor que Assunção Cristas” e à “obrigação” do PSD de “ganhar a Câmara de Lisboa” que Hugo Soares preconizava.

O aparelho não gostou e isso viu-se.

André Pardal, antigo deputado do PPD/PSD e algo crítico da direção atual do partido, escreveu na sua página: “Não consigo perceber a falta de ambição do coordenador autárquico nacional do PSD – um dos principais responsáveis pela condução do processo em Lisboa – a seis meses das eleições autárquicas. Às vezes… mais vale estar calado.”

Keep cool, again

Contactado pelo i, Carlos Carreiras não retirou quaisquer das suas declarações, que também responsabilizavam Assunção Cristas e o seu prematuro anúncio de candidatura autárquica como causas da ausência de coligação de centro-direita em Lisboa.

“O PSD apresenta uma candidatura em Lisboa para ganhar, confiante nas qualidades da sua candidata, assim como no programa e na equipa que vamos apresentar”, afirmou o também presidente da Câmara Municipal de Cascais, defendendo a candidatura de Teresa Leal Coelho.

“Combatemos dois adversários: a elevada abstenção de 55% e uma esquerda que vai falsamente separada às eleições numa coligação camuflada entre PS- -BE-PCP”, clarificou ainda, não referindo o CDS-PP ou Cristas como adversários na corrida.

“Caberá ao eleitorado de centro manifestar -se nas urnas, exercendo o direito de voto no sentido de derrotar as esquerdas que governam o país e o município de Lisboa”, concluiu, em declarações a este jornal no dia de ontem.

Numa coisa parecem todos estar de acordo: o destino nacional do PSD está de mão dada com o desenlace das autárquicas de 2017.