Armando Vara, administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2005 e 2007, garantiu ontem que o convite para liderar a gestão do banco público partiu de Teixeira dos Santos, que na altura ocupava o cargo de ministro das Finanças e com quem tinha “uma boa relação”, uma vez que já tinham sido colegas de governo. Terá sido aí que soube que a administração da Caixa iria ser liderada por Santos Ferreira.
Vara disse ainda não ter debatido o assunto com o então primeiro-ministro, José Sócrates. “Quem me convidou foi na altura o senhor ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] muito pouco tempo antes da posse [agosto de 2005]. Disse-me que gostava que integrasse as mudanças que ele queria implementar na CGD”, afirmou durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão do banco estatal. Quanto a Sócrates, volta a repetir: “Nunca falei com ele sobre esta matéria”.
O ex-administrador da CGD revelou também que nunca tinha discutido o dossiê Caixa com ninguém do governo, nem nunca atribuiu créditos sob pressão do Executivo. “Enquanto fui administrador nunca tive nenhuma conversa com ninguém do governo sobre orientações de qualquer género em supostos dossiês da Caixa”, revelou aos deputados.
Ainda assim, depois de ter sido pressionado pelo deputado Hugo Soares, do PSD, a resposta já foi outra: “Na minha memória não está nada em relação à Caixa com Sócrates”.
Crédito polémico
Em relação a um dos financiamentos polémicos dados pela Caixa ao empreendimento turístico de Vale do Lobo – onde o banco ficou com uma posição acionista de 25%, sendo a exposição da Caixa a este projeto de 283 milhões em agosto passado –, Armando Vara diz que o banco público tem condições para recuperar todo o seu dinheiro. “A propósito das ideias de um banco mau, ou outro nome que tenha, não venham a deixar aquele projeto por meia dúzia de patacas. Estou seguro que a Caixa não perderá dinheiro com aquele ativo”, disse o ex-administrador.
Vara vai mais longe e chega mesmo a dizer que o empreendimento a “cada dia que passa valoriza mais” e garante que poderá ser vendido “no mínimo pelo mesmo valor que a Caixa lá colocou”, acrescentando que a “Caixa olhou para aquele dossiê como um projeto de grande interesse. Vários bancos disputavam aquele crédito”.
Recorde-se que este financiamento está a ser investigado no âmbito da Operação Marquês, que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Vara é outro dos arguidos.
Já em relação aos resultados financeiros do banco público durante o seu mandato, o ex-administrador garantiu que foi gerido “criteriosamente”. E lembrou: “A Caixa teve os melhores resultados de sempre. Isto diz bem dos resultados desenvolvidos”.