Num processo que vem sendo caracterizado pelos atrasos deu–se, excecionalmente, um adiantamento.
O i teve acesso ao documento que se apresenta como o “programa eleitoral do PSD para a Câmara Municipal de Lisboa” – intitulado “Lisboa com futuro”; subtitulado “A visão” – que foi coordenado por José Eduardo Martins e apresentado pelo próprio em reunião da concelhia local do partido, esta semana.
Martins será candidato à assembleia municipal e Teresa Leal Coelho – vice-presidente de Passos na direção nacional – será a candidata a presidente da câmara lisboeta.
O documento, todavia, é olhado por uma maioria de dirigentes como uma “base” ou um “draft” a partir do qual se poderá trabalhar, sabe o i, não tendo gerado um entusiasmo unânime.
Na introdução, o programa aponta ao objetivo: “uma cidade pela positiva, com visão e liderança”. Duas páginas mais tarde, pede-se que uma câmara dos “laranjas” venha “mediar pela positiva” a relação entre “pessoas” – proclamadas protagonistas do projeto – e a tecnologia; algo que não terá sido feito “até hoje”. Um parágrafo mais tarde, a “Lisboa com futuro” que o PSD propõe para as eleições autárquicas torna a insistir que a sua “visão” para a cidade será impulsionada “pela positiva”. Seis páginas a seguir, sobre as novas plataformas de mobilidade como a Uber e a Cabify, o programa compromete-se a regular “pela positiva”. Logo depois, sobre o alojamento local, a ideia passa por também regular “pela positiva”.
Pela positiva, pela positiva, pela positiva.
Só é pena que a mimética não costume ser ativo político. É que “pela positiva” é, coincidentemente, o slogan da campanha de Assunção Cristas, a presidente do CDS-PP, que também se apresentou à corrida pela câmara da capital contra Fernando Medina.
O espírito de fazer política “pela positiva” nem sequer é recente no que toca a entrevistas e discursos de Assunção Cristas. A referência mais antiga que este jornal encontrou em arquivo com o slogan do CDS é ainda de 2016.
Os cartazes de Cristas acompanhados da máxima “Pela Positiva” já estão, aliás, espalhados pela cidade há algum tempo. Depois de reportados problemas de assiduidade, sobram aparentes problemas de criatividade ao PSD da capital.
Mas há matéria: o programa defende “a multiculturalidade” e um maior acolhimento de refugiados; a “inversão” do “combate ao automóvel”, preferindo a “promoção do transporte público”; uma rede “free wifi” de internet grátis com “ampla cobertura no espaço público”; o prolongamento da linha de metro a partir da estação de São Sebastião para Campolide, Amoreiras, Campo de Ourique, Prazeres, Alvito, Santo Amaro, polo universitário da Ajuda, Alto do Restelo, Restelo e Algés. “Assumir a gestão operacional do Metropolitano de Lisboa”, em articulação com a Carris, é prioridade.
Em relação aos tuk-tuks, considera o programa que estes poluem por “ar e ruído” e que mesmo a versão elétrica descaracteriza “a identidade da cidade”. A alternativa proposta passa por “táxis turísticos” em parceria com “as associações de taxistas”. “É uma atividade privada que tem de ser regulada”, justifica ao i Mauro Xavier, o homem que convidou José Eduardo para elaborar o programa. “Não podemos continuar a ver a vida dos lisboetas infernizada!”
O turismo é considerado “desejável” se regulado, “contrariamente ao entendimento de total liberalismo adotado pelo executivo camarário” de Medina.