Centenas de militares corriam este domingo contra o tempo na busca por sobreviventes por entre os escombros enlameados e ainda inundados de Mocoa, a cidade colombiana que, na madrugada de sábado, viu rios galgarem margens e uma parte da montanha ruir, transformada num enorme deslizamento de terras que destruiu casas, arrancou árvores, projetou camiões a centenas de metros e matou mais de 230 pessoas, nas estimativas mais conservadoras.
E esses são apenas os corpos que já foram desenterrados. A BBC estimava este domingo que qualquer coisa como 200 pessoas estavam ainda desaparecidas, muitas delas soterradas nos escombros das suas próprias casas. Os feridos são mais de 400, alguns em estado grave. Em Mocoa, no sudoeste da Colômbia, cidade com mais de 350 mil habitantes, muitos preparam-se para os 300 mortos. Talvez mais.
A maioria dormia quando a muralha de lama caiu. De sexta para sábado choveu um terço do que se esperava em Mocoa para o resto do mês, o que fez os rios transbordar e a encosta da montanha ceder sob o seu próprio peso.
Alterações climáticas?
Martin Santiago, responsável das Nações Unidas na Colômbia, aponta o dedo às alterações climáticas, que, argumentava ontem, estão a ter “resultados tremendos no que diz respeito à intensidade, frequência e magnitude destes acontecimentos naturais”.
Outros culpam o abate de árvores. “Quando as bacias hidrográficas são desflorestadas, elas rompem”, dizia ontem a antiga ministra colombiana do Ambiente, Adriana Soto. “É como se estivéssemos a tirar a proteção para deslizes de terra.”
No terreno, porém, só existe tempo para a procura. “Perdemos um bebé, ninguém sabe dele”, dizia este domingo um residente aos jornalistas, que descrevuan as ruas de Mocoa cheias de habitantes berrando os nomes dos familiares desaparecidos.
“Um pequeno bebé, não conseguimos encontrá-lo em lado nenhum”, continuava o homem desconhecido. Outro, Mario Usale, contava à Reuters que estava à procura do sogro. “A minha sogra também estava desaparecida, mas encontrámo-la viva a uns dois quilómetros de distância. Tinha ferimentos na cabeça, mas estava consciente.”
Estado de calamidade
O presidente colombiano enviou cerca de 1100 militantes para a cidade e declarou o estado de calamidade pública. Juan Manuel Santos regressou este domingo pela segunda vez a Moncoa, tentando, como escrevia nas redes, garantir “o máximo de atenção no mínimo tempo”.
Mas, horas depois das derrocadas, o maior obstáculo às operações era ainda o acesso a Mocoa, onde muitas estradas estão ainda cortadas com detritos, várias pontes estão tombadas e os caminhos enlameados não permitem muitos veículos.
As equipas de salvamento contornam os obstáculos enviando drones com câmaras térmicas, tentando encontrar sobreviventes dos ares, onde operam também helicópteros. Nos rios – três transbordaram na madrugada de sábado – há botes em busca de corpos e sobreviventes.
Mas sábado as buscas tiveram de ser interrompidas durante a noite. Não há água canalizada em Mocoa e há poucas reservas da que está engarrafada. A eletricidade continua cortada e a população parece estar pouco ou nada preparada para a resposta a estas catástrofes naturais, relaticamente comuns na Colômbia.
Nas horas que se seguiram aos deslizamentos, aliás, gerou-se pânico nas saídas cortadas da cidade. “As pessoas não sabem o que fazer, não houve preparação nenhuma”, dizia o residente Hernando Rodriguez, em declarações à France-Presse.