O disparo de mísseis americanos contra uma base aérea do regime sírio lançava grupos rebeldes e rivais de Assad em júbilo esta sexta-feira. Para vários observadores, organizações e Governos no Médio Oriente, estes últimos especialmente interessados na queda de Assad e na derrocada dos seu aliado iraniano, a prudência de Barack Obama é a grande culpada pelo facto de o ditador sírio estar hoje no poder e na situação mais favorável dos últimos seis anos de guerra. O antigo presidente americano, argumentam, esteve excessivamente receoso de uma possível entrada num novo conflito e pouco disposto a demonstrar a força militar americana, o que permitiu a Assad agir com impunidade e aos seus aliados russos e iranianos sustentarem-no no poder.
O ataque de quinta termina a era da política prudente de Obama, mas não deve alterar o rumo da guerra civil síria. Dias antes dos mísseis desta semana, o Governo de Trump anunciou que a saída de Assad não é uma preocupação vital e não parece haver indicações de que esta política se vai alterar, até porque a mira de Trump está acima de tudo apontada para o grupo Estado Islâmico. Na campanha, aliás, sugeriu que Assad e Putin podiam ser aliados nessa batalha, algo que pode ter ficado hipotecado com os Tomahawk desta semana. O que não se alterou, no entanto, é a recém-encontrada relutância em líderes europeus e americanos de insistirem na derrocada do regime, conscientes de que em seis anos a oposição moderada se tornou irrelevante, que os grupos rebeldes são sobretudo organizações radicais sunitas e receando que o fim de Assad seja o início de uma nova vaga de refugiados em solo europeu.