Finais de abril, princípios de maio. A formalização do apoio do PS ao presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, não deverá acontecer antes. Os socialistas portuenses continuam muito divididos, mas a opção está consumada. Tudo indica que – mínimo dos mínimos – o atual vereador socialista Manuel Pizarro venha a ser o número 2 da lista de Rui Moreira.
Mas, no mesmo fim de semana em que a secretária-geral adjunta justificava, novamente, o facto de o PS não ter candidato no Porto, o eurodeputado socialista Manuel dos Santos desenvolvia uma espécie de “teoria da conspiração” para justificar o negócio que está a ser fechado entre o PS e Rui Moreira.
Manuel dos Santos escreveu no Facebook que “segundo informações fidedignas, Rui Moreira, o candidato independente à Câmara do Porto, que o aparelho distrital do PS vai apoiar, prepara-se para convidar o vereador Pizarro para número dois da lista (…) Por outro lado, Rui Moreira terá a promessa de Costa de que encabeçará a lista para o Parlamento Europeu ou será ministro num próximo governo socialista, abrindo espaço para a consagração administrativa de Pizarro como presidente da edilidade”.
Manuel dos Santos, que tem sido um opositor de António Costa, afirma que “se estas movimentações se confirmarem, estaremos perante mais um passo da venda da identidade do PS e dos seus princípios a interesses mesquinhos de domínio estritamente pessoal. Com a agravante do envolvimento do secretário-geral, ao arrepio do seu dever de, sempre e em todas as circunstâncias, defender o partido de que é líder”.
Questionado pelo i, o deputado ao Parlamento Europeu, que durante muitos anos foi deputado à Assembleia da República eleito pelo Porto, afirma “confiar nas suas fontes”. Manuel dos Santos é um opositor feroz do apoio dos socialistas a Rui Moreira. “É inqualificável o PS não ter candidato no Porto. Acho lamentável que o PS esteja morto”, diz ao i.
Para Manuel dos Santos, o PS deveria sempre concorrer, enfrentando a possibilidade de perder para Rui Moreira. “Se tivesse candidato próprio, o PS afirmava-se, como está a fazer o Bloco de Esquerda com João Semedo ou o PCP com Ilda Figueiredo”, defende.
“O que me choca, e choca muita gente, é que ninguém reaja a isto e o partido esteja completamente morto”, afirma o eurodeputado socialista.
O apoio do PS à recandidatura de Rui Moreira à Câmara do Porto foi defendido pelo secretário-geral, António Costa, no congresso do partido em junho de 2016, em Lisboa. “Sou militante do PS desde os 14 anos. Gosto muito do emblema da mãozinha. O maior disparate que podíamos fazer era, em nome do emblema da mãozinha, sacrificarmos a boa gestão de uma cidade”, disse António Costa no discurso de encerramento do congresso do PS.
Já se sabia que este era o entendimento do presidente da Federação do Porto, Manuel Pizarro, mas o assunto não estava a ser pacífico. Mesmo depois de Costa declarar o seu apoio pessoal a Rui Moreira, o mal-estar persistiu – e continua – entre os socialistas portuenses. “O PS está muito dividido”, confirma uma fonte da federação socialista. De resto, a candidatura de João Semedo conta ir buscar votos ao eleitorado socialista descontente.