Turismo esmaga habitação

No momento de comprar ou arrendar casa, muitos portugueses são forçados a ir para as periferias devido aos preços elevados que são cobrados nos centros das cidades.

É preciso encontrar uma estratégia entre o turismo e a habitação para combater os preços altos que são praticados no setor e que estão bem longes do poder de compra dos portugueses. O alerta é feito pelo CEO da Century 21 ao SOL quando confrontado com as conclusões do estudo levado a cabo pela mediadora.

«Não pode existir de um lado uma estratégia para o turismo  e por outro uma estratégia de habitação. Queremos mais turistas, mas também temos de ter mais pessoas a viver na cidade para dar esse apoio e essa força laboral. Além disso queremos proteger o património histórico e cultural da cidades quando as pessoas que as habitam são o seu ADN», lembra Ricardo Sousa.

A verdade é que os últimos dados não são animadores para quem está à procura de casa para arrendar, principalmente em Lisboa. O Portal Nacional de Imobiliário desde 2001, fez um estudo no qual se conclui que o preço médio de um apartamento para arrendar em Lisboa é de 1458 euros por mês, numa amostra de 1413 imóveis disponíveis. Já o preço médio mínimo em Lisboa é de 679 euros por apartamento.

Também a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) já veio admitir que «encontrar um T1 para arrendar por menos de 800 euros por mês é quase impossível».

Daí Ricardo Sousa defender que é necessário fazer este debate sobre o equilíbrio o mais urgente possível para evitar problemas que já existem em outras grandes cidades europeias e dá como exemplo o caso de Barcelona ou de Berlim, que já aprovaram medidas para travar o turismo e para impedir o crescimento ou até mesmo a existência de ofertas de alojamento local. «Ainda vamos a tempo para fazer essa análise para evitar os problemas que essas cidades estão a viver. Mais do que limitar o alojamento local é preciso que haja políticas do lado da habitação que acompanhem as necessidades de habitação que são de primeira necessidade e que estejam a ir ao encontro do poder de compra dos portugueses», alerta ao SOL.

Oferta desajustada

Segundo o estudo feito pela mediadora, a grande maioria da geração millennials – que integra indivíduos entre os 17 e os 37 anos – prefere arrendar casa e procura imóveis até 600 euros (78%). Só 34,4% opta pela aquisição de imóveis e, neste caso, muitos tomam esta decisão porque não têm capacidade financeira para responder aos valores que atualmente são pedidos pelo mercado.

«Para quem tem menores rendimentos ou opta por um imóvel na preferia ou opta por uma casa maior e mais cara para partilha ou prefere comprar pensando numa lógica a médio e a longo prazo porque a prestação mensal a pagar ao banco acaba por ser mais baixa do que a renda pedida e às vezes conseguem rendas abaixo dos 500 euros», revela o CEO.

As casas em segunda mão surgem com 54,7% das preferências junto deste segmento, os imóveis reabilitados com 32,8%, as habitações novas registam 28% das opções de escolha e as casas já mobiladas cerca de 24%.

Quanto aos critérios de localização, mais de 61% dos millennials preferem habitar nos centros urbanos, quase 40% referem ainda que querem viver perto do local de trabalho e 31,3% dos jovens procuram zonas residenciais.

As acessibilidades e os transportes públicos são os serviços mais valorizados pelos millennials na procura de imóveis, ao registarem mais de 70% das preferências. A proximidade de supermercados e centros comerciais surge em segundo lugar das preferências, ao registar 35,9% de valorização. As infraestruturas de lazer e desporto são apontadas em 32% das respostas e a proximidade de escolas é privilegiada em cerca de 30%.

Tecnologia influencia negócio

Como este segmento dá mais importância às novas tecnologias de informação, a própria mediadora viu-se obrigada a adaptar a sua forma de trabalho, uma vez que «esta geração está a marcar novas tendências na procura de soluções de habitação e a implicar novas dinâmicas de interação nos profissionais do setor». Daí a Century 21 ter começado a incorporar tecnologias inovadoras no seu modelo de negócio, para desenvolver ferramentas e sistemas que apoiem os colaboradores da rede no contacto e na comunicação com os consumidores nos meios digitais.

No site nacional da marca são integrados todos os imóveis da rede para venda, compra ou arrendamento no mercado português. «Através de um sistema de pesquisa inteligente, é possível selecionar as propriedades com as características pretendidas por cada utilizador, bem como encontrar toda a informação sobre os serviços e infraestruturas existentes na proximidade da casa, para facultar um contexto completo da envolvente de cada imóvel», diz Ricardo Sousa.

Também os próprios consultores mudaram a sua forma de trabalhar. O responsável admite que há uma aposta no serviço de messenger das várias redes sociais. Isto porque se, há uns atrás o pico de visita era às 9h da manhã e às 14h da tarde, atualmente é a partir das 22h «e é a essa hora que querem uma resposta por parte do consultor». Por isso mesmo, os mediadores passaram a responder imediatamente a agradecer o interesse e a dizer que no dia seguinte entra em contacto ou completa essa informação.