Uma oportunidade única, como referiu André Jordan, empresário e investidor de primeiro plano no setor em Portugal, em extensa e interessante entrevista publicada (a primeira parte) na edição do SOL da semana passada.
Jordan, visionário que lançou a Quinta do Lago e aposta no crescimento do condomínio de luxo de Belas, nos arredores de Lisboa, alerta para o facto de, por enquanto, temos um turismo de massas, em quantidade mas com pouca qualidade, que traz algum dinheiro («dinheirinho»), mas não necessariamente riqueza e perspetivas de crescimento do país.
O desafio, diz, é atrair o turista de influência, o decisor, o gestor, o investidor, aproveitando a conjuntura internacional que nos é favorável.
Não só pela riqueza paisagística, climatérica, gastronómica, mas também pela mão de obra qualificada e barata – há que ser realista e pragmático –, Portugal tem condições para, na atualidade, seduzir investimento e afirmar-se competitivo e atrativo para o acolhimento de empresas, não apenas enquanto destino privilegiado para reuniões de quadros (médios e altos), mas como base ou sede dos próprios centros decisores, operacionais e laborais.
Acontece que o modelo protecionista de Donald Trump nos Estados Unidos, o envolvimento generalizado dos detentores e ex-detentores do poder político e económico no Brasil, o Brexit e a Europa em ciclo de mudança, elevam o potencial de Portugal, em termos geoestratégicos, para se afirmar como plataforma internacional de excelência para quem com liquidez financeira e capacidade de investimento imediato.
Esse é o repto de Jordan. Que dá o exemplo dos chineses, que já o perceberam há anos, e aconselha à diversificação como objetivo e móbil de uma política nacional de captação de investidores e de investimentos internacionais.
A diferença está, por exemplo, no facto de Lisboa ser ponto de passagem e de escala dos navios cruzeiros, ou ser ponto de partida e de chegada das respetivas rotas.
A diferença é abissal.
Como mera escala, as centenas de milhares de turistas que saíam até aqui no meio dos contentores da zona portuária, gastavam o que gastavam em meia dúzia de restaurantes, alimentavam os tuk-tuks e lojas de souvenirs, as bilheteiras dos Jerónimos, da Torre de Belém e de mais uns quantos monumentos e museus e pouco mais, para além dos Pastéis de Belém (ou de cerveja, quando as filas ao lado se revelam intoleráveis) – que já não é pouco, mas pouco passa do tal «dinheirinho» de que fala André Jordan.
Um terminal de cruzeiros que fixe operadores, que permita fazer de Lisboa ponto de partida e de chegada, representa muito mais do que isso. Incentiva a proliferação de uma indústria própria, cria postos de trabalho, gera receitas para hotelaria, restauração e comércio – é, em si mesma, uma fonte criadora de riqueza.
Esse é o caminho.
Como o caminho é o que Jordan aponta em termos de atração de investidores e empresas.
Curiosamente, o quadro político nacional – com um Governo dependente da extrema-esquerda – poderia ser, e a priori é-o, um handicap.
Ora, se bem que a legislação e (excessiva lentidão) da justiça também sejam fatores dissuasores, o Governo de António Costa beneficia do beneplácito europeu face ao comprometimento do Executivo com os objetivos/metas acordados e à boa imagem externa que o país grangeou também com mérito do Governo passado e conta com uma equipa que, longe dos holofotes mediáticos, tem estratégia e capacidade de planeamento e de execução da mesma.
Falo do discreto mas eficaz secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, de quem quase ninguém ouviu falar, mas que vai fazendo interessante e promissor caminho, com a diplomacia portuguesa a ajudar.
Jorge Costa Oliveira aparece pouco, fala pouco, mas trabalha na inversa proporção. No Parlamento, numa das suas raras audições, espantou esquerda e direita, representantes dos partidos que suportam o Governo e da Oposição, deixando-os rendidos.
Tutela o AICEP e tem programa detalhado para atrair investimento e investidores. E não pára, na prática, na tentativa de ‘vender’ a sua teoria ‘lá fora’.
Se Portugal tem uma diplomacia inegavelmente competente – basta ver os resultados extraordinários em tudo quanto são lugares de destaque conquistados a pulso por eméritos portugueses (e não só dos mais destacados politicamente, como Durão Barroso, António Guterres, Jorge Sampaio, Vítor Constâncio ou Vítor Gaspar, mas também tecnicamente para cargos ligados à NATO, ao Tribunal Europeu, Conselho da Europa e por aí fora) – a verdade é que só desde há pouco mais de uma mão cheia de anos a diplomacia económica tem sido orientação-chave para os nossos embaixadores e diplomatas.
Que a tem prosseguido com êxito.
Evidentemente que os resultados não são imediatos. Mas há que persistir. Eles já vão aparecendo e, com estratégia e sustentabilidade, mais hão de aparecer, no médio e longo prazo.
O caminho faz-se caminhando. E vai-se fazendo. É preciso é não perder o norte. E manter o rumo. Sem ceder às tentações do lucro imediato, fácil mas fugaz.