Das suas intervenções televisivas, em que “sabia tudo”, e previu que teríamos de nos habituar ao petróleo a 200 dólares o barril, quando hoje está a 50, evoluiu. Como Presidente, Marcelo colou-se ao governo do seu antigo aluno António Costa (tal como se tinha encostado a Sócrates no primeiro ano do primeiro governo deste; o Presidente sabe perfeitamente de onde sopram os ventos). A única crítica que Marcelo fez a Costa referiu-se ao “otimismo ligeiramente irritante” do primeiro-ministro. Mas, por enquanto, o otimismo confirma-se.
Nas comemorações do 43º aniversário do 25 de abril, Marcelo teve uma frase lapidar. Disse que é preciso “mais crescimento e melhor distribuição de riqueza” em Portugal. Se a primeira parte da frase recolhe a quase unanimidade – ninguém com relevo defende um menor crescimento económico – a segunda parte da frase abre uma fissura entre Marcelo e a direita. A direita não acha que a riqueza deva ser melhor distribuída. Sempre houve pobres, e os pobres são pobres por sua própria culpa (tal como os desempregados), porque não têm capacidades para mais, ou porque essa é a vontade de Deus, etc. As desculpas para justificar a pobreza são muitas, e prevalecem no nosso país. Por alguma razão, Portugal é o país da Europa ocidental em que as diferenças de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres são maiores.
Marcelo sabe isso, de certeza. E sabe também que vivemos nesta era de globalização, em que se criaram alguns milhares de super-ricos, enquanto milhões ainda vivem em condições miseráveis, pagando muitas vezes com a vida a ambição de terem uma existência melhor.
Para que Portugal seja um sítio mais decente, a riqueza, como diz Marcelo, tem de ser melhor distribuída, o que se faz, numa primeira fase, através dos impostos. E isto mesmo que a direita berre que a estão a matar fiscalmente. Gostaria de ver essas pessoas a viverem com 290 euros por mês, como alguns dos leitores deste texto de opinião.