Os confrontos entre as forças do governo de Nicolás Maduro e a oposição ameaçam tornar-se rotina, em vários estados da Venezuela. A onda de manifestações que se iniciou no princípio de abril, pouco depois de o Tribunal Supremo de Justiça ter ordenado a retirada de competências legislativas e orgânicas à Assembleia Nacional – dominada pela oposição ao chavismo -, tem sido uma realidade quase diária desde quarta-feira da semana passada, o dia escolhido pela plataforma política Mesa da Unidade Democrática (MUD) para convocar “a mãe de todas as manifestações” em Caracas. E como nenhuma das partes está disposta a abandonar as ruas, os protestos alastraram-se até hoje e não parecem ter fim à vista.
Tal como há uma semana, amanhã haverá lugar a mais uma manifestação de grandes proporções, no centro da capital venezuelana. Segundo o deputado da oposição Miguel Pizarro, o objetivo é continuar a denunciar o “golpe de Estado na Venezuela” perante a comunidade internacional e “defender o espaço legislativo”. O destino da marcha ainda não foi revelado, mas calcula-se que poderá ser um dos edifícios do governo em Caracas, situados nas chamadas áreas “oficialistas” da cidade”.
Pizarro foi mesmo um dos principais rostos da MUD no protesto de ontem, que resultou no bloqueio de diversas estradas em mais de 20 estados venezuelanos. De acordo com o “El Universal”, pelo menos quatro pessoas morreram, vítimas dos confrontos entre a polícia de choque ou as milícias urbanas afetas ao governo, e os manifestantes anti-Maduro, nos estados de Barinas e de Mérida. Números que, segundo aquele jornal venezuelano, aumentam para 27, o número de mortos, no espaço de apenas 20 dias.
Mantendo-se este ritmo de vítimas mortais, teme-se que sejam ultrapassadas as 43 mortes resultantes dos protestos de 2014, um dos anos mais negros da história recente da Venezuela.
As últimas semanas têm testemunhado igualmente uma quantidade gigantesca de detenções. Na segunda-feira a organização não-governamental Foro Penal Venezuelano revelava terem sido detidas 1486 pessoas, desde o dia 4 de abril, sendo que 801 delas ainda se encontram sob custódia das autoridades.
Em maioria no parlamento, a MUD tem vindo a pressionar cada vez mais Maduro a definir um calendário eleitoral, a aceitar a ajuda humanitária internacional para que a Venezuela possa enfrentar a fome e a pobreza que assolam o país, e a proceder à libertação dos presos políticos.
Apesar de revertida pouco depois pelo governo, a decisão do tribunal de retirar poderes à Assembleia Nacional, no final de março, foi encarada pela oposição como a gota de água, numa relação já muito deteriorada e que pouco ou nada tem contribuído para resolver a crise económica, social e política que se abateu nos últimos anos sobre a Venezuela.
As ações de rua foram então o método escolhido para a MUD fazer política de forma pacífica, mas têm resvalado para confrontos diários com os polícias, as milícias civis e os soldados destacados pelo governo para manter a ordem.