Já não bastava a troca de ameaças entre EUA e Coreia do Norte, com promessas de ataques preventivos e guerras nucleares, para justificar o ar irrespirável que paira sobre a Península da Coreia, de tão alto que o nível de tensão por ali se encontra. Em pouco mais de 48 horas, três dos principais envolvidos num (retórico, para já) conflito, decidiram exibir alguns dos seus mais recentes trunfos militares e manter em alerta os seus vizinhos.
Se o regime de Kim Jong-un aproveitou o 85º aniversário da fundação do seu Exército do Povo, celebrado no passado dia 25 de abril, para realizar um “enorme exercício de artilharia” – já tinha exibido os seus mais recentes projéteis balísticos, na parada em homenagem a Kim Il-sung, dez dias antes –, os EUA responderam, no mesmo dia, com a ancoragem do USS Michigan, um submarino equipado com mais de 150 mísseis Tomahawk, no porto de Busan da vizinha Coreia do Sul, para um “exercícios de rotina” e, quem sabe, para se juntar à armada liderada pelo USS Carl Vinson, que se encontra a caminho da Península da Coreia, a todo o vapor.
A demonstração de força norte-americana e a promoção da aliança estratégica com Seul prolongou-se mesmo para hoje, com o início dos trabalhos de transporte e instalação, na Coreia do Sul, do conhecido sistema de defesa antiaéreo Terminal High-Altitude Area Defence (Terminal de Defesa Aérea para Grandes Altitudes, em português) –, habitualmente designado como THAAD –, concebido para abater mísseis balísticos, com a garantia de que estará operacional no final de 2017.
E quem não quis ficar atrás foi a China que, esta quarta-feira, também decidiu apresentar os resultados de um dos mais aguardados projetos militares dos últimos anos: o primeiro porta-aviões de fabrico totalmente nacional e o segundo da frota chinesa.
Batizado de Shandong, segundo a agência noticiosa chinesa Xinhua, e exibido pela primeira vez no porto de Dalian, numa cerimónia presidida pelo general Fan Changlong, vice-presidente da Comissão Militar Central chinesa e número dois da hierarquia militar de Pequim, o porta-aviões apenas estará totalmente operacional em 2020, pelo que a sua exibição no mesmo dia em que os EUA instalam o sistema THAAD na Coreia do Sul e após duas semanas de tensão com os norte-coreanos, não deixa de ser um momento assinalável, que será seguramente debatido na reunião extraordinária de hoje, entre o presidente Donald Trump e o Senado norte-americano.
Shandong, uma arma ansiada
O investimento e a modernização da componente marítima do exército chinês tem sido uma das prioridades do principal aliado de Pyongyang, que aspira a uma presença militar mais significativa na região, particularmente na área geográfica que inclui o Mar da China Meridional, palco de uma das maiores disputas territoriais dos últimos anos.
De momento, a China tem apenas um porta-aviões operacional, pelo que aguarda com enorme expectativa o dia em que o Shandong estiver pronto a ser utilizado. De acordo com Xinhua, o novo porta-aviões tem 315 metros de comprimento, 75 de largura, e capacidade para carregar com 50 mil toneladas, a uma velocidade de cerca de 60 quilómetros por hora. Significa isto que poderá transportar cerca de 50 aviões de combate e uma tripulação aproximada de mil pessoas.
A nova embarcação juntar-se-á assim ao Liaoning, o outro porta-aviões chinês, construído a partir de um velhinho navio ucraniano, comprado em 1998, e transformado definitivamente em 2012.
Mesmo sendo neste momento o segundo país que mais investe em Defesa no mundo, a China ainda, ainda assim, está bastante longe dos EUA, quer nesse capítulo, quer em número de porta-aviões. Os norte-americanos têm a maior frota deste tipo de embarcações – 10 – e todas elas têm capacidade para transportar até 100 mil toneladas e 60 caças de combate.