Ao mesmo tempo que o Governo tenta arranjar mecanismos para atrair investimento estrangeiro, existem setores que alertam para algumas decisões do atual Executivo e alguns deles já chegaram mesmo a ameaçar deixar de investir em Portugal. Um dos últimos casos esteve relacionado com a indústria do papel por causa do travão à plantação de eucalipto imposto pela reforma da floresta.
Na raiz do problema está o facto de a indústria consumir, em Portugal, 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano, sendo necessário importar dois milhões devido à insuficiência da floresta nacional – argumentos velhos que levaram a um novo problema: o setor quer aumentar a produção.
No entanto, o Governo mostrou-se peremtório quanto a esta matéria, com Capoulas Santos, ministro da Agricultura, a afirmar que «não vamos permitir que a área de eucalipto aumente. Mas há muito eucalipto onde não pode estar e há terrenos onde é possível produzir o dobro. O que queremos fazer é reorganizar tudo».
Mas a medida não agradou à indústria que não baixa os braços e tem continuado a assumir o descontentamento pela política pensada para os eucaliptos.
Pedro Queiroz Pereira, presidente do conselho de administração da Navigator Company, explica mesmo que «perdem as empresas deste setor, que veem agravada a sua competitividade externa, e perde o país, sob a forma de escoamento de divisas e de destruição de postos de trabalho».
Além disso, Queiroz Pereira não esconde que poderão estar em risco futuros investimentos, uma vez que, «se torna cada vez mais difícil a vida das empresas produtivas e mais arriscados os investimentos».
Mais do que lamentar as medidas anunciadas pelo Governo, o presidente da Navigator Company destaca que falamos de «barreiras e obstáculos à plantação e replantação de eucalipto, que é discriminado em relação a outras fileiras florestais, sem qualquer justificação económica ou ambiental e com a consequência, imediata e a prazo, de um ainda maior abandono de propriedades rurais em Portugal».
Mas esta posição não é tomada apenas pela Navigator Company. Também a Altri depressa ameaçou travar os investimentos se Portugal demonizasse o eucalipto. Paulo Fernandes chegou mesmo a aproveitar a assinatura de contratos no valor de 125 milhões de euros na Celbi e Celtejo para avisar o Governo. «A simples proibição do plantio de determinada espécie de árvore, neste caso o eucalipto, preferindo que aí floresça mato, é a todos os títulos pouco recomendável», atirou o empresário. No entanto, o combate à expansão da área de eucalipto foi a bandeira da negociação entre o PS e os Verdes e o Governo acabou por ter de ceder.
O Executivo de António Costa começou, desde cedo, a sustentar o travão ao crescimento do eucalipto em Portugal com um diploma, com data de março de 2015 e assinado por Passos Coelho, que determina o congelamento até 2030 dos 812 hectares de povoamentos com eucalipto.
Em resposta às críticas de produtores florestais e também da indústria, Capoulas Santos, ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, disse que o Executivo está «a respeitar e a cumprir a Estratégia Nacional para as Florestas». A ideia é que todas as novas plantações de eucalipto apenas se possam realizar por substituição das zonas já plantadas.