O fim da noite de domingo, no Estádio do Restelo, foi muito agitado e os incidentes então verificados continuam a ganhar expressão. Após a sétima derrota consecutiva dos azuis do Restelo, segunda sob o comando de Domingos Paciência, alguns adeptos do clube permaneceram nas imediações do recinto, demonstrando o seu descontentamento para com a direção da SAD – numa animosidade que já vem de longe –, mas principalmente para com os jogadores.
Neste caso, o mais visado pelas críticas foi, como já é recorrente, o capitão Abel Camará, cuja relação com uma fação de adeptos do Belenenses não é famosa desde a temporada 2011/12, quando tentou separar um confronto entre um grupo de adeptos e o capitão da altura, Barge. Na semana seguinte, após uma derrota com o Trofense, os mesmos adeptos acusaram amigos e familiares do internacional guineense de agressões e inclusivamente de terem mostrado armas brancas e de fogo. Desta feita, Abel Camará, autor do penálti que permitiu ao Paços de Ferreira empatar o encontro (viria a vencer por 2-1), revela ter sido vítima de insultos e tentativas de agressão, bem como a sua esposa, que se encontra grávida. “Venho a sofrer disto há bastante tempo. É injusto o que certos adeptos tentam fazer comigo. Usam-me como o patinho feio da equipa. Compreendo que os assobios e as críticas fazem parte do futebol, mas agressões físicas aos meus familiares ultrapassam todas as marcas”, salientou ontem Abel Camará, numa conferência de imprensa onde esteve ladeado por todo o plantel do Belenenses e ainda pelo presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista.
“O Sindicato está do lado do Abel, reafirmando que episódios lamentáveis como estes continuam. O Abel é uma excelente pessoa, um ótimo profissional e capitão de equipa. Devemos repudiar comportamentos violentos e reforçar que episódios como este continuam a acontecer no futebol português. Para além de ser acusado de racismo, teve ameaças à sua integridade física e da sua esposa, grávida”, salientou o dirigente, prometendo apoio inequívoco ao jogador: “Levaremos este caso até às últimas consequências, quer nas entidades desportivas, quer nas entidades judiciais, para que se evitem mais casos destes. Queremos que todos os responsáveis sejam identificados e punidos em conformidade É possível acabar com este clima de impunidade e hipocrisia que existe no futebol português. Tolerância zero para insultos racistas ou xenófobos.”
Adeptos falam em mentiras da Sad
Desde domingo, têm sido múltiplas as reações nas redes sociais ao comunicado que Abel Camará escreveu na manhã de segunda-feira, onde relatou o episódio vivido à saída do Estádio do Restelo, na véspera, salientando ainda que “basta ver as redes sociais para saber que tudo isto é uma campanha organizada e todos sabem quem são as pessoas que a organizam e a incentivam”.
Muitas foram as pessoas que manifestaram o seu apoio ao avançado, antigo internacional sub-21 por Portugal, mas também são muitas as mensagens de ódio, reprovação e hostilidade – algumas de cariz racista e xenófobo. Entretanto, numa nota enviada às redações, o Provedor dos Sócios do Belenenses, Rodrigo Saraiva, desmente as acusações de Abel Camará, quer de agressões – ou tentativas – a si ou à sua esposa, quer de insultos racistas, lembrando mesmo que os maiores ídolos da história do clube são os irmãos Matateu e Vicente Lucas, antigos internacionais portugueses e ambos de raça negra.
Segundo Rodrigo Saraiva, “estas mentiras foram transmitidas à imprensa pela empresa que gere a Belenenses SAD”, com quem o clube e uma grande fatia dos adeptos mantêm uma relação hostil desde que Rui Pedro Soares assumiu a presidência da SAD azul em 2013. O Provedor dos Sócios do clube lisboeta solicitou ainda à direção do Belenenses, liderada por Patrick Morais de Carvalho, para agir judicialmente contra a SAD, colocando a esta entidade um processo por difamação.