O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) não esconde os desafios que o banco público tem pela frente após o processo de recapitalização, considerando–o “forte”, mas também deixa uma palavra de tranquilidade: “É o êxito neste desafio que lhe permitirá resistir num mercado bancário altamente exigente e competitivo, gerando a rentabilidade adequada à remuneração do acionista e a assegurar futuras necessidades de capital, confirmar-se como um elemento estruturante do sistema financeiro nacional e manter-se como um porto seguro para as poupanças dos portugueses”, revelou Paulo Macedo no relatório e contas que o banco enviou para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O atual líder do banco público lembra ainda que este desafio “tem uma base de partida sólida assente nas atuais quotas de mercado da Caixa em Portugal, na sua larga e próxima base de clientes e no seu atual nível de capitalização” – uma base de partida que, no entender do gestor, irá permitir trabalhar “na melhoria das suas margens e na adequação das suas comissões através de produtos e serviços de qualidade que vão ao encontro das necessidades dos clientes, permitirá otimizar custos na sua operação, melhorando a sua eficiência, e permitirá também alcançar um custo do risco anual consistente com as melhores práticas”.
Também o plano de recapitalização – aprovada por Bruxelas e já concretizada num montante de 4444 milhões de euros, considerada a maior já levada a cabo em Portugal – é visto por Macedo como essencial para o banco público poder dedicar-se, nos próximos quatro anos, à execução do seu plano estratégico, que assenta no desenvolvimento da sua atividade no apoio à economia nacional e na redução de balcões e de postos de trabalho. As metas são simples: reduzir em 170 o número de balcões e cortar cerca de 2200 postos de trabalho até 2020.
“É necessário ajustar a sua proposta de valor à satisfação das necessidades financeiras das famílias e empresas portuguesas, sem esquecer a necessidade de simplificação de processos e otimização de estrutura que foram acordados com a Comissão Europeia e de cumprimento indispensável nos termos dos compromissos assumidos pelo Estado Português”, diz ainda o documento.
O presidente executivo confirma ainda que “a presença internacional da Caixa será racionalizada e o modelo de governo melhorado, concentrando os seus esforços nos principais mercados de afinidade portuguesa”.
Macedo deixa também uma mensagem aos trabalhadores: “Assumimos de forma inequívoca o comprometimento no reforço da liderança da CGD, que é uma oportunidade e uma responsabilidade de todos nós. Existem na nossa organização a capacidade e a competência necessárias – não só o saber, mas sobretudo o saber fazer –, a que deve somar-se o indispensável compromisso de cada uma das pessoas da Caixa.”
Trabalhadores descontentes
A prioridade da Caixa é o regresso aos lucros e, para garantir que o plano estratégico é cumprido, a Direção-Geral da Concorrência (DGComp) vai monitorizar trimestralmente o cumprimento destes alvos – uma fiscalização que vai contar com um auditor independente.
A ideia de Bruxelas é simples: caso a Caixa não alcance as metas, o banco terá de fazer cortes mais acentuados de custos, aumentar o preço dos serviços e intensificar o desinvestimento nas operações internacionais. Isto poderá significar mais despedimentos e encerramento de mais balcões nos próximos quatro anos.
A ideia não agrada ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD, João Lopes, e ganha ainda maior relevo quando as imposições feitas à administração ainda não receberam resposta. Em causa estão os aumentos salariais e o fim do congelamento de carreiras – desde 2010 que não há qualquer alteração salarial e desde 2013 que as carreiras estão congeladas.
Contrassenso Mas enquanto a palavra de ordem é cortar, os salários da administração mostram exatamente o contrário. O mesmo relatório revela que a entrada de António Domingues na administração da Caixa, a 31 de agosto do ano passado, fez disparar os gastos salariais do banco público. O ex-administrador da Caixa auferiu 30 214,29 euros por mês enquanto esteve à frente da instituição financeira.
Este valor ganha outros contornos quando comparado com o salário do seu antecessor, José de Matos – que se demitiu a 21 de junho do ano passado, mas aceitou ficar no cargo até Domingues assumir funções –, que recebia 16 578,28 euros por mês. E toda a sua equipa de administração representava um gasto para o banco público de 88,4 mil euros mensais.
Também a equipa de gestores executivos de António Domingues, que passou de quatro para seis, ganhava um salário unitário de 23 285,71 euros por mês – um valor superior quando comparado com o que era praticado na administração anterior. Mas se tivermos em conta todos os gastos com os 11 elementos da administração, atingimos valores na ordem dos 184 mil euros.