A relação entre Rui Moreira e o PS está tensa. O autarca do Porto não tem gostado de ver nos jornais a ideia de que o apoio socialista nas autárquicas se pode traduzir numa espécie de apropriação do PS da sua candidatura independente. A entrevista de ontem de Ana Catarina Mendes ao Observador foi a gota de água num balde que há meses vem enchendo.
O i sabe que Moreira e o seu núcleo duro não gostaram de ver a secretária-geral adjunta socialista dizer que ganhar a Câmara do Porto será "uma vitória do PS".
"O que está em causa é a própria essência da candatura, que é uma candidatura independente", frisa ao i uma fonte próxima de Rui Moreira, sublinhando que a independência se vai refletir em tudo: da feitura das listas ao desenho do programa, passando pela sua concretização caso vença as eleições.
Moreira não abdica nem um milímetro do caráter independente da sua candidatura, mesmo sabendo que conta com o apoio do PS e do CDS. De resto, o autarca portuense fez saber isso mesmo às direções dos dois partidos que o resolveram apoiar desde as primeiras conversas.
Foi por isso que caiu mal a Rui Moreira a forma como Ana Catarina Mendes disse, numa entrevista ao Expresso, que as listas para o Porto iriam garantir "a representatividade" do PS.
Da mesma maneira, Moreira não gostou de ver o eurodeputado do PS Manuel dos Santos dizer ao i que o autarca tinha combinado com António Costa um lugar de ministro ou eurodeputado para sair do mandato a meio, dando o lugar ao socialista Manuel Pizarro, que se assume que será o seu número dois.
Moreira desmentiu prontamente Manuel dos Santos e, numa entrevista ao Público, aproveitou também para corrigir o que tinha dito Ana Catarina Mendes, assegurando que as suas listas não contemplarão lugares combinados com o PS e o CDS e que os convites feitos por si terão a competência como único critério.
Com este historial, Rui Moreira está particularmente sensível a tentativas de apropriação da sua candidatura por parte do PS.
E foi precisamente esse o contexto que fez com que as declarações de ontem da secretária-geral adjunta do PS motivassem uma reunião de urgência convocada para esta noite.
Três erros é demais
"Uma vez toda a gente se engana. Três é demais", aponta um dos próximos de Moreira, explicando que Ana Catarina Mendes ainda tentou corrigir o tiro hoje com declarações à Lusa para explicar que o que quis dizer foi que os socialistas viveriam como sua uma vitória de Moreira, mas o núcleo duro do independente não está convencido.
Esta noite, depois do jantar, os conselheiros mais próximos de Rui Moreira vão reunir para analisar a situação e decidir o que fazer. Serão pouco mais de meia dúzia e nenhum deles com cartão partidário.
Todos os cenários estão em cima da mesa, mas ninguém quer avançar com o que poderão ser as conclusões do encontro.
Contactada pelo i, fonte oficial do gabinete de Rui Moreira confirmou apenas a existência da reunião desta noite, mas recusou fazer qualquer outro comentário.