«Nenhum Governo pode ser sólido por muito tempo se não tiver uma oposição temível e popular».
Benjamim Disraeli
E assinala essa data com uma iniciativa partidária (jantar comemorativo) no distrito de Leiria, concelho de Pombal. Um território laranja inspirador, porquanto verdadeira e coerentemente social-democrata, que nunca foi permeável a derivas liberais exageradas.
Este aniversário decorre num tempo coletivo em que o nosso país já não é o mesmo que deu a vitória eleitoral à coligação PSD/CDS-PP em setembro de 2015. Antes pelo contrário. Esse país já não existe. No bom e no mau sentido. Isso sente-se e perceciona-se. E não só nas sondagens.
Daí que esta comemoração deva servir para, no mínimo, o PSD acabar com o seu luto pela saída do Governo.
É, aliás, urgente fazer essa mudança interna e externa, para se reconciliar com o seu eleitorado, com Portugal e com os portugueses. Assumindo-se como uma alternativa mobilizadora, esclarecida, mais política e social e menos económica e financeira.
Virada para o futuro e não prisioneira do passado.
Somos muitos os que não recebemos lições de ninguém, muito menos de atuais dirigentes nacionais do PSD, quanto ao respeito e à dedicação pelas regras internas e pelos objetivos estratégicos e programáticos em vigor.
Mas, se estamos empenhados no próximo ato eleitoral autárquico (mesmo os que fomos preteridos e até, nalguns casos, pessoal e politicamente perseguidos e dispensados de dar a cara nesse combate eleitoral), devemos tudo fazer para não prejudicar as candidaturas de militantes e de independentes que vão dar a cara pelo PSD e pelas coligações lideradas por este partido, de norte a sul de Portugal.
Importa fazer tudo para não os prejudicar no espaço mediático e no dia-a-dia político na oposição ao Governo da ‘geringonça’, dentro e fora da São Caetano à Lapa e no Grupo Parlamentar.
O PSD autárquico precisa de tudo menos do PSD formal, no Parlamento e fora dele, a persistir na forma e no conteúdo numa narrativa assente no ajuste de contas, na criação de ‘casos’, etc. Por muito que o atual Governo e a sua ‘geringonça’ o mereçam, isso já não colhe. Porque contribui para aumentar a distância política entre o PSD e o país real.
Este aniversário do PSD acontece num tempo coletivo e político muito desafiante. Muito complexo. Carregado de muitas incertezas, internas e externas. Um tempo em que a complexidade dos problemas é cada vez maior, com o grau de exigência das pessoas a aumentar todos os dias.
O PSD tem de se reconciliar com o seu eleitorado tradicional (reformados etc.) e tem de aprofundar a sua relação não só económica mas sobretudo social e cultural com a classe média, com os setores mais permeáveis à mudança, protagonistas maiores dos setores mais dinâmicos do nosso país.
E tem de temperar a sua obsessão europeia, com uma nova agenda para o Atlântico Sul e para o espaço lusófono.
Para isso acontecer, tem também de corrigir outras coisas. Desde logo, a forma como comunica. E o modo de quem o faz em seu nome.
Tem de alterar alguma da sua ‘narrativa discursiva’ e alguma da sua linguagem política, que o tem encostado à direita liberal.
Neste aspeto, é inspirador que os seus 43 anos sejam comemorados no distrito de Leiria, território onde tem muita influência eleitoral na esmagadora maioria dos seus 16 concelhos.
Porque, apesar de o Estado ser aqui muitas vezes o problema – e a sociedade ser a solução –, os autarcas e os demais protagonistas do PSD nunca levaram longe demais cartilhas liberais, quer na economia quer nos costumes. Antes pelo contrário: conservadores nos costumes, liberais na economia e social-democratas na responsabilidade social.
Aliás, o leiriense típico é um empreendedor à procura do justo reconhecimento.
olharaocentro@sol.pt