Rio Ave-Benfica. Do México a Vila do Conde com o tetra nos pés

Nada está ganho nem decidido… mas quase. Depois da enésima escorregadela do FC Porto, desta feita as águias aproveitaram mesmo a oferta e venceram num terreno tradicionalmente hostil: o 1-0 ao Rio Ave deixa o Benfica à distância de apenas uma vitória para celebrar a conquista de um inédito tetracampeonato, que pode acontecer já na…

A tarefa, já se sabia, estava longe de ser fácil para os comandados de Rui Vitória. E não é de agora: a tradição mostra que uma deslocação a Vila do Conde nunca significa passadeiras vermelhas e via aberta para os encarnados. Desde o início do século XXI, o Benfica somava seis triunfos no Estádio dos Arcos, tendo ali tropeçado em cinco ocasiões (três empates e duas derrotas, a última das quais em 2014/15). E, porventura um dado ainda mais relevante: só uma dessas seis vitórias das águias se deu por mais de um golo de diferença: 3-1 em 2013/14. De resto, muito equilíbrio, litros de suor dispendidos e muitas unhas roídas.

Para começar, Rui Vitória apostou na surpresa. Em duas, mais propriamente: Salvio, sempiterno titular, ficou desta feita no banco, surgindo o artista Rafa no flanco direito; e Jiménez, o bem-amado dos adeptos, teve a primeira hipótese no onze para a Liga em 2017.

Nem isso, nem o conforto do resultado do FC Porto na Madeira, na véspera, foram porém suficientes para proporcionar às águias uma entrada forte no encontro. Pelo contrário: foi o Rio Ave que se mostrou mais confiante e proativo logo a abrir, ficando perto do golo aos três minutos, numa falha de Ederson a sair a um cruzamento. A bola acabou por bater em Pizzi e encaminhar-se tranquilamente para a baliza, mas o mesmo Pizzi evitou o madrugador soco no estômago do tricampeão nacional.

A partir daqui, o Benfica assumiu o controlo da partida – embora o Rio Ave nunca se tenha remetido a uma postura unicamente defensiva – e começou a criar ocasiões. Jonas, duas vezes, e Nélson Semedo,  numa jogada de insistência pela direita do ataque encarnado, puseram Cássio à prova, com o guardião brasileiro sempre a responder “presente”.

A arte de contra-atacar

No segundo tempo, as coisas viraram. Foi o Benfica a entrar melhor – muito melhor -, colocando a defesa vila-condense em sentido com uma arrancada fulgurante de Nélson Semedo e um remate em esforço de Jiménez para defesa apertada de Cássio. Houve ainda lugar a um lance muito estranho, com o juiz João Pedro Pinheiro a parar o jogo por uma falta de Petrovic a meio-campo quando um avançado encarnado seguia para a baliza.

Pelo meio, refira-se, já tinham acontecido dois lances polémicos em ambas as áreas. Ainda na primeira parte, Rafa parece derrubar Heldon, na tentativa de disputar uma bola no ar; a abrir a segunda, Nélson Semedo cai e fica a reclamar um empurrão. Em ambas as situações, o juiz mandou jogar.

À forte entrada das águias, acabaria por se seguir um período de grande pressão do Rio Ave, cujo ponto mais visível foi o remate em arco de Heldon que passou a rasar o poste esquerdo de Ederson. Houve um remate de Tarantini à malha lateral e também um cruzamento de Lionn cortado in extremis por Salvio, que entretanto tinha sido lançado no jogo.

E foi precisamente o argentino a contribuir decisivamente para o momento da partida: aos 75 minutos, um contra-ataque letal dos encarnados, aproveitando o balanceamento ofensivo do Rio Ave, culminou com o 18 das águias a assistir Jiménez, que não falhou na cara de Cássio. Canta Rui Veloso que não se deve voltar aos lugares onde já fomos felizes, mas o mexicano não conhece música portuguesa: depois de ter dado a vitória na época passada, repetiu ontem a façanha.

Houve ainda tempo para um calafrio enorme para os benfiquistas, quando aos 88’ Gonçalo Paciência ganhou à defesa encarnada, rodou e atirou ao poste esquerdo da baliza de Ederson. A bola bateu num defesa do Benfica e sobrou para Traoré, que com tempo para tudo, atirou para o céu.