Coreia do Sul elege um presidente que quer negociar com o Norte

A eleição de um presidente progressista é saudada pela China e pela Coreia do Norte

A 21 de agosto de 1976 foi lançada, por tropas da Coreia do Sul e dos EUA, a operação Paul Bunyan. A operação militar, que envolveu 30 helicópteros, bombardeiros B-52 e centenas de militares em terra, começou às sete horas da manhã. Durante horas, as unidades militares da Coreia do Sul e dos EUA na região estiveram em alerta vermelho. Mais uma vez, a península da Coreia estava à beira da guerra. Três dias antes da operação, três militares dos EUA tinham sido mortos por tropas norte-coreanas num confronto. Nessa operação participou, como soldado das forças especiais, o homem que foi eleito presidente da Coreia do Sul, com a ideia de fazer a paz com o seu vizinho do norte. Moon Jae-in viu de perto como a guerra pode explodir e matar milhões com só uma faísca.

A eleição do advogado, ativista dos direitos humanos e militante contra a ditadura sul-coreana na época que era estudante universitário, tendo sido duas vezes preso, põe fim a uma sucessão de presidentes conservadores em Seul e abre a possibilidade de serem retomadas negociações de paz entre as duas Coreias. 

Para esta vitória contribuiu o crescimento do sentimento contra a política dos EUA na região. Os sul-coreanos acham que Washington faz escaladas militares com demasiada ligeireza, comportamento que só é possível estando bastante longe de levar com as bombas de uma possível guerra. O novo presidente afirmou várias vezes que era preciso que a Coreia do Sul retomasse o controle da crise e não ficasse como “turistas observando como discutem, entre eles, os Estados Unidos e a China. A Coreia do Sul tem de liderar as discussões sobre estas questões”, defendeu o novo presidente. 

Esta mudança política pode implicar uma alteração profunda na escalada de violência a que se assiste na região. Até Pyongyang parece sensível à mudança e pediu na segunda-feira que estas eleições pudessem abrir caminho “a uma nova era de reunificação”, segundo defendia um editorial do jornal da Coreia do Norte “Rodong Sinmun”. “A confrontação entre as duas Coreias, ajudada por títeres do partido conservador, deve terminar e as forças da nossa nação devem unir-se para abrir uma nova era de reunificação”, rezava o principal jornal da capital da Coreia do Norte.

Foi com o mesmo otimismo que a agência oficial chinesa Xinhua pediu ao novo presidente que “demonstre a sua disposição para baixar a tensão” que se agudizou na zona depois da subida ao poder do presidente dos EUA, Donald Trump, e da continuação do programa nuclear norte-coreano. 

A vitória do candidato progressista acontece na sequência do escândalo de corrupção que envolveu a presidente Park Geun-hye e resultou na sua exoneração.