Manuel Pizarro não está numa situação fácil. Vários socialistas gostariam de ver o agora candidato do PS ao Porto ser mais assertivo a pôr o ónus da rutura com Rui Moreira no independente, mas Pizarro está com dificuldades em acertar o tom da campanha. E, pelo meio, ainda tem – como presidente da Federação do PS/Porto – fogos para apagar em Vila do Conde e Felgueiras.
“Manuel Pizarro já devia ter assumido um tom mais crítico em relação a Rui Moreira”, afirma um deputado socialista, que lamenta que o candidato ao Porto não esteja “a fazer um discurso de vitimização” em relação à forma como o independente rompeu com o PS.
Para já, Manuel Pizarro tem sido moderado no tom adotado em relação a Moreira, de quem ainda só recebeu elogios pela forma “leal” como sempre tratou o presidente da Câmara do Porto. E se há quem no PS entenda que Pizarro mantenha as boas relações com quem trabalhou durante quatro anos, também há quem não tenha problemas em assumir um discurso mais violento.
“Os culpados pela rutura são Rui Moreira e a sua amálgama de apoiantes, que o chantagearam desde a primeira hora da coligação pós-eleitoral”, assumiu ontem no Facebook o deputado do PS João Paulo Correia, que acusa o independente de criar uma falsa divisão entre o PS/Porto e a direção nacional como pretexto para uma separação que o deixa de mãos livres para elaborar as listas sem ter de negociar com os socialistas.
“Rui Moreira acha que com esta acusação tola consegue despertar um sentimento colérico contra Lisboa! Rui Moreira, vai à volta. A malta não é parva!”, ataca João Paulo Correia, que não tem pejo em afirmar que “Rui Moreira traiu a confiança do PS”.
Um dirigente nacional do PS alinha pelo mesmo diapasão. “Manuel Pizarro e o PS estiveram sempre de boa-fé com Moreira, ele é que não esteve de boa-fé connosco”, comenta, garantindo que o independente tinha deixado claro aos socialistas do Porto que daria o lugar de número dois a Pizarro.
Mas se os socialistas não perdoam a Rui Moreira a crise com Manuel Pizarro, também é certo que há descontentamento no partido em relação à atitude do presidente da Federação do Porto.
Júlio põe pizarro em xeque
Como se isso não bastasse, ontem, Júlio Magalhães foi à SIC assumir que recebeu um sms a sondá-lo como candidato ao Porto. O jornalista do Porto Canal assume que não sabe de quem partiu a mensagem e diz que declinou imediatamente o convite. Mas as suas declarações vieram manter acesa a polémica em torno da hesitação de Pizarro em aceitar ser o cabeça-de-lista pelo PS.
Essa hesitação é, de resto, assumida à boca pequena no partido. “Pizarro está numa situação muito desconfortável. Viu a vida dele mudar em 24 horas”, reconhece um dirigente do PS, que acha que o caminho, agora, é “encaixar numa estratégia de vitimização” em relação a Moreira e apostar em “arrojar na campanha” para tentar fazer a diferença.
problemas a norte
O problema é que o Porto não é a única dor de cabeça de Manuel Pizarro. Em Vila do Conde e em Felgueiras, o processo autárquico tem sido atribulado e ainda não está encerrado.
Em Felgueiras, o presidente da concelhia, Eduardo Bragança, chegou mesmo a convidar o independente Pedro Araújo para candidato do PS, mas recuou. “Não reunia as condições para ser candidato”, assume ao i Eduardo Bragança, sem se alongar nas explicações e confessando que Felgueiras está sem candidato do PS.
O i sabe que ainda há hipóteses de Pedro Araújo ser candidato independente e isso pode vir a baralhar as contas no concelho. Mas Eduardo Bragança diz apenas que vai tentar resolver o assunto “rapidamente”, apresentando um candidato “nos próximos dias”.
Em Vila do Conde foi a independente Elisa Ferraz que, impaciente por não ver formalizado o apoio do PS, resolveu anunciar que seria candidata mesmo sem contar com os socialistas.
Mário Almeida, histórico socialista e líder da concelhia de Vila do Conde, desvaloriza o caso ao i, assegurando que a independente “está convidada pelo PS” e que está só à espera que um grupo de trabalho que designou entregue as listas com os candidatos para as 30 juntas de freguesia do concelho.
A Mário Almeida nem passa pela cabeça que Elisa Ferraz não seja a candidata do PS. Mas nos bastidores socialistas admite-se que a feitura das listas está a revelar-se complicada e pode inquinar o processo.
polémica em fafe
Estes são dossiês que Pizarro tem de gerir enquanto presidente da Federação do PS/Porto. Mas há ainda uma polémica em que está envolvido na Federação de Braga, por causa de Fafe.
A concelhia de Fafe está em guerra aberta com a direção nacional, depois de Ana Catarina Mendes ter feito valer a regra aprovada no congresso segundo a qual todos os presidentes de câmara eleitos pelo PS voltariam a ser candidatos. A concelhia não gostou porque tinha aprovado outro nome, o de Antero Barbosa, que acabou por avançar como independente. O problema é que Pizarro foi a um jantar do 25 de Abril organizado pelo candidato oficial do PS, Raul Cunha, enquanto decorria outro jantar da concelhia.
A situação caiu mal em Braga, onde Manuel Pizarro disse ter ido a pedido de Ana Catarina Mendes, e deu azo a uma moção de protesto aprovada por unanimidade na distrital de Braga.