Portugal está entre os cinco países com mais crianças obesas na Europa

Relatório da Organização Mundial da Saúde revela que os jovens portugueses tendem a alimentar-se pior com a idade.

Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde, que será apresentado hoje no arranque do Congresso Europeu de Obesidade, no Porto, revela que os índices de obesidade dos adolescentes portugueses estão dentro da média e que os números têm vindo a estabilizar desde 2002. Margarida Gaspar de Matos, relatora nacional e coordenadora em Portugal do inquérito HBSC-Health Behaviour in School–Aged Children, cujos últimos dados de 2014 foram usados na análise internacional, explicou ao i que os indicadores mais preocupantes e onde Portugal está mais acima da média surgem entre os rapazes mais novos, de 11 anos (6.o ano).

Mas os dados nacionais suscitam algumas reflexões: se é verdade que os jovens portugueses até têm estado a consumir menos doces e refrigerantes do que no passado, não estão a comer mais vegetais ou fruta e tendem a alimentar-se pior com a idade.

O descontentamento com as refeições nas escolas é uma das queixas habituais quando repetem o inquérito, diz Margarida Gaspar de Matos, investigadora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. “Há a obrigação de oferecer alimentos saudáveis nas escolas, mas os miúdos queixam-se da terrível confeção e do mau sabor e aspeto da alimentação”, diz a autora. “Queixam-se da agitação e da falta de bom ambiente social nas cantinas”, acrescenta, defendendo que devia haver mais preocupação em servir alimentos bem confecionados num “bom ambiente, cuidado e limpo”. Margarida Gaspar de Matos alerta também para que a venda de gomas e hambúrgueres na periferia das escolas acaba por ser uma solução que os jovens encontram, mas por não estarem satisfeitos com a oferta na escola.

Os dados comparativos sobre atividade física também não trazem ainda as melhores notícias. As adolescentes portuguesas, tendo em conta os inquéritos a jovens de 15 anos (10.o ano), são as que praticam menos atividade moderada- vigorosa entre os 27 países analisados. Só 5% apostam um pouco mais a sério no exercício, enquanto nos rapazes da mesma idade a percentagem é de 18%. “Desde 1998, pelo menos, que temos este perfil, e muito tem sido feito em termos de políticas públicas, o que só quer dizer que não está a ser bem feito”, diz Margarida Gaspar de Matos, avançando algumas explicações. “Acho que se tenta promover a atividade física do ponto de vista de levar ‘quem gosta’ a praticar mais, mas nunca se pensou a sério no que faz com que os que não praticam comecem a praticar”, diz a especialista, apontando fatores dissuasores. “Quanto a mim, é a associação da atividade física a ‘competição feroz’, ao estilo arruaceiro e pouco diferenciado intelectual e culturalmente, ou ao estilo superficial e obcecado com o corpo e com as performances”.

Mas também há problemas relacionados com a higiene, aponta Gaspar de Matos, lembrando que há escolas que não têm condições para o duche depois das aulas de Educação Física. “Para promover a atividade física, os profissionais e os responsáveis pelas políticas públicas têm de ver o mundo através das dificuldades e falta de motivação dos que não praticam, e não pelos olhos dos que ‘são do clube’.” O mesmo com a alimentação, alerta a autora, defendendo que está na altura de perceber o que leva os miúdos a rejeitarem a comida na escola e a procurar alternativas cá fora.