A candidatura de José Adelino Maltez a grão-mestre do Grande Oriente Lusitano está a provocar um certo mal-estar entre os maçons mais tradicionais. Mais do que o lado outsider e pouco formal do professor catedrático e politólogo, o que perturba alguns ‘velhos maçons’ é o passado político de Maltez antes do 25 de abril.
A maçonaria foi ilegalizada por Salazar nos anos 30 e passou à clandestinidade. Com exceções (como o caso de Bissaya Barreto, amigo de Salazar e fundador do Portugal dos Pequenitos, que foi sempre maçon) era uma organização defensora dos valores democráticos. O que incomoda alguns maçons é o facto de José Adelino Maltez ter pertencido a organizações nacionalistas próximas do Estado Novo como o Círculo de Estudos Ultramarinos, uma organização criada em 1971 para defender o chamado «Império português».
Na sua autobiografia (publicada em jose.adelino.maltez.info), o candidato a grão-mestre lembra assim esses tempos: «Enquanto estudante universitário, fui ativista dos grupos políticos-culturais que, na academia de Coimbra, circulavam em torno da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra, de que fui presidente da direção, em 1971-1972 e da Sociedade Cooperativa Livreira Cidadela de Coimbra, bem como do Círculo de Estudos Ultramarinos. Nesta última organização, dirigi o respetivo gabinete de estudos e fui monitor nos cursos nacionais e nas extensões dos mesmos na Guiné e Cabo Verde».
José Adelino Maltez cita o historiador italiano Ricardo Marchi, autor de uma obra chamada Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas 1959-1974 que diz o seguinte: «O presidente do OTUC [Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra] é José Adelino Maltez, que levou à companhia os seus gostos pelo nacionalismo esotérico de Agostinho da Silva, por um certo nacionalismo místico da maçonaria e de Fernando Pessoa». Maltez diz que «não levou», mas que viveu «em comunhão com essa mística». Marchi integra claramente José Adelino Maltez nas direitas radicais de antes do 25 de abril.
Maltez militou no CDS e no partido da Nova Democracia, fundado pelo ex-líder do CDS Manuel Monteiro. Define-se como «republicanamente monárquico» e é membro do conselho da Causa Real.