Não é uma antecipação, mas é como se fosse.
Se, estatutariamente, o mandato de Miguel Pinto Luz à frente da distrital de Lisboa terminaria – e vai mesmo terminar – no dia 20 do próximo mês, era esperado que a estrutura social–democrata seguisse o recomendado pelo conselho nacional: evitar eleições internas em período que anteceda as autárquicas.
Tendo em conta que a realização das eleições autárquicas está marcada para dia 1 de outubro e as eleições internas para a distrital devem ocorrer entre o final de junho e o despontar de julho, a disputa pelo lugar de sucessão a Pinto Luz não segue a recomendação dos conselheiros nacionais do partido.
No entanto, embora a decisão de Pinto Luz de não prorrogar o mandato até depois das autárquicas – ou até depois do próximo congresso do partido, no primeiro trimestre de 2018 – tenha surpreendido a maioria, o motivo é menos surpreendente.
Visto que o cenário pós-eleitoral não se adivinha o mais sorridente para os “laranjinhas” da capital, garantir que o futuro da distrital se decide antes do receado desaire foi o modo que a direção do PSD encontrou para que a distrital não fosse tomada por uma figura distante de Pedro Passos Coelho.
Convidou-se, então, nova amizade para este ano autárquico: Passos levou Leal Coelho para tentar a Câmara Municipal de Lisboa contra Medina, agora leva Pedro Pinto para a distrital de Lisboa.
“Antecipar uma eleição para apanhar os adversários despreparados pode não correr bem”, adverte fonte próxima da distrital em exercício.
Se, de facto, os críticos de Passos com relevo político para concorrer ao cargo foram apanhados desprevenidos por uma corrida que não esperavam tão cedo, “Pedro Pinto não é uma personalidade querida das bases e nada está garantido só por ter o aval do presidente do partido”, termina a mesma fonte, reservada ao anonimato. “Se aparece alguém da velha escola, como o Nuno Morais Sarmento, o jogo vira e o resultado deixa de ser limpo.”
Silêncio barulhento
Tanto Mauro Xavier, que abandonou a concelhia em abril, em rutura com Passos e Teresa Leal Coelho, como Pedro Rodrigues, o líder do movimento Portugal Não Pode Esperar que disputou a distrital já em 2013, eram vistos como os nomes mais fortes, numa lógica distante do “passismo”, para herdar a posição de líder distrital do PSD em Lisboa.
Todavia, tanto um como outro têm mantido a discrição no que diz respeita ao tema. Não há tomadas de posição públicas, mas o i sabe que o burburinho interno se confirma.
Embora as tropas de quem pensara uma candidatura à distrital depois das autárquicas estejam, neste momento, paradas, tal não significa que Pedro Pinto seja eleito em unanimidade.
Embora o favoritismo e o modo como se apresentou já preparado para o desafio tenham pesado, este fim de semana, a ala mais distante de Passos em Lisboa começou a pensar num adversário para a corrida contra Pedro Pinto, ex-líder da JSD e hoje deputado.
“Passar de Pinto Luz [próximo de Passos] para um crítico [de Passos] seria perigoso, especialmente com um congresso à porta”, avalia um deputado do grupo parlamentar respetivo, ao i, que vê com “naturalidade” que Passos Coelho “antecipe o congresso” na reação aos resultados autárquicos.
Com Pedro Pinto na distrital lisboeta, tanto o próximo congresso como o futuro da concelhia do PSD/Lisboa são mais tranquilos para Passos. Apressa-se o calendário social-democrata, portanto.
Ao que o i apurou, nos últimos dias, perante a surpresa do não prolongamento de mandato de Miguel Pinto Luz, os telefones tocaram, embora falte um nome singular.
Rui Gomes da Silva, que foi a alternativa não consumada da concelhia ao não de Santana Lopes, descartou a possibilidade. Helena Lopes da Costa também está afastada da ideia, até pelo constrangimento de integrar a mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – logo, nomeada por governo socialista.
Nesse sentido, José Amaral Lopes, antigo deputado e secretário de Estado, é, até à data, o mais próximo de concorrer contra Pedro Pinto.
O certo é que os distantes de Passos não pretendem fazer da eleição para a distrital uma campanha de um homem só.
Na lista de Pinto, já noticiava o semanário “SOL” este fim de semana, estará Ângelo Pereira, candidato à Câmara de Oeiras, como vice-presidente.
A distrital e o futuro da concelhia
Mantendo a distrital na esfera de influência da São Caetano, como sucederia com a vitória de Pedro Pinto, a limpeza do clã de Rodrigo Gonçalves na capital seria consumada. Entretanto destituído de presidente interino da concelhia do PSD/Lisboa, Gonçalves teria hipótese de ripostar caso a distrital caísse num hemisfério não passista. Também será, por isso, o futuro da concelhia a ir a jogo quando se decidir o herdeiro de Miguel Pinto Luz na distrital laranja.