Miguel Torga, Vergílio Ferreira, José Saramago, Eduardo Lourenço, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Maria Velho da Costa, Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes, Manuel António Pina, Hélia Correia. E agora Manuel Alegre a juntar-se ao olimpo dos portugueses distinguidos com o prémio maior da literatura em português, o Prémio Camões, anunciado ontem à tarde na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. À 29.ª edição do prémio, Alegre torna-se no 12.º português a receber a distinção no passado atribuída a autores como Jorge Amado, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Pepetela ou Mia Couto.
Criado em 1989 pelos governos português e brasileiro, o Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, é anualmente atribuído, com uma obrigação de alternação entre os dois países, a “um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.
O júri desta edição era constituído por Paula Morão, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria João Reynaud, professora associada jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, os brasileiros Leyla Perrone-Moisés e José Luís Jobim, o moçambicano Lourenço do Rosário e José Luís Tavares, poeta cabo-verdiano.
Nascido em 1936 em Águeda, Manuel Alegre começou a ganhar destaque como poeta nas coletâneas Poemas Livres (1963-1965) mas o grande reconhecimento viria com os volumes de poemas “Praça da Canção” (1965) e “O Canto das Armas” (1967), livros fundamentais da resistência à ditadura que circulavam no meio intelectual apesar de proibidos pela censura.
Em 1974 regressou do exílio na Argélia como o “poeta da liberdade” para, a par de uma carreira política no Partido Socialista, ter continuado a produzir uma obra que conta com perto de quatro dezenas de títulos, entre a poesia e a prosa, género em que se estrearia em 1989 com “Jornada de África”.
Entretanto, foi o primeiro português a receber o diploma de membro honorário do Conselho da Europa e recebeu, entre outras, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em Portugal, a Comenda da Ordem de Isabel a Católica, em Espanha, e a Medalha de Mérito do Conselho da Europa.
Até esta edição, o Brasil tinha apenas mais um premiado do que Portugal, depois de na edição inaugural ter sido distinguido um autor português, Miguel Torga. O primeiro africano a receber um Camões foi o poeta moçambicano José Craveirinha, em 1991, (Mia Couto venceria o Camões em 2013) e em 1997 anos depois Pepetela se tornar no primeiro angolano e o mais jovem autor a juntar-se à lista, aos 56 anos. Só em 2006 um autor africano voltaria a ser distinguido com um Camões, dessa vez Luandino Vieira, que não aceitou o prémio.