Marta aponta para o braço. As nódoas negras ficaram para lembrar o momento em que saltou para o tanque, o mesmo que serviu de abrigo a doze pessoas da aldeia de Nodeirinho.
Teve que deixar o andarilho de lado para que a filha, Céu, a levasse numa cadeira de rodas até à única fonte de água das redondezas. Não consegue precisar quantas horas esteve lá dentro, mas garante que em 84 anos de vida nunca viu nada assim. "É a prova do que a minha avó dizia. O fim do mundo é em chamas. Estamos bem perto dele".
Durante horas mantiveram-se dentro de água e graças a uma mangueira de borracha conseguiram evitar que o fogo se aproximasse. "Foi esta aguinha que nos salvou", diz, de dedo apontado para a fonte que abastece a aldeia. "A aldeia? Isto vem gente de Lisboa cá encher garrafões", acrescenta o marido.
Manuel Antunes prefere não voltar à madrugada de domingo. "Nunca ninguém está preparado para o que se viu aqui", garante. Os moradores tentaram chamar os bombeiros várias vezes e houve até quem se deslocasse a Figueiró dos Vinhos para pedir ajuda. "Mas aqui não chegou ninguém, foi cada um por si", lamenta, mesmo que nesta aldeia não haja espaço para ressentimentos. "Percebe, coitados. Isto era fogo por todo o lado, os bombeiros não conseguiam chegar a todas".