Haverá uma tendência algo cósmica nos Sebastiões? O que foi rei desapareceu em batalha, o que escreveu para o “El Mundo” sobre o incêndio de Pedrógão Grande nunca chegou realmente a aparecer. Pelo menos até à hora do fecho desta edição.
O i contactou o jornal espanhol e os serviços administrativos da redação afirmaram: “É uma situação surreal. Não sabemos que o se passou”. O nome de Sebastião Pereira não consta na lista de colaboradores e correspondentes do “El Mundo”. “Não sei quem é. Não tinha ouvido o nome dele até você ligar. Na base de dados ele não está”, adianta Glória, uma administrativa, do outro lado da linha do telefone.
A editora de Internacional do “El Mundo”, Silvia Roman, esteve “em reunião” desde o início da tarde e a chamada telefónica não lhe foi passada. O i contactou-a por correio eletrónico e não obteve qualquer resposta até à hora do fecho desta edição.
E quem será Sebastião Pereira, o homem que fez de correspondente do “El Mundo” em Lisboa durante quatro dias sem ter carteira profissional de jornalista ou qualquer vestígio da sua pessoa na imprensa além do que escreveu sobre os incêndios de Pedrógão Grande? Não se sabe. Nas redes sociais, nem vê-lo. Sebastião Pereira, se de facto existe, quase passa por fantasma.
A imprensa espanhola tem marcado presença na cobertura à tragédia de Pedrógão Grande. Celeste López, enviada especial espanhola (e existente) do “La Vanguardia”, escreveu na segunda-feira que “o incêndio em Portugal volta-se contra o governo”, pois o secretário de Estado responsável já havia “antecipado a catástrofe no mês de maio”. Mas o certo é que nenhuns artigos originários da terra de ‘nuestros hermanos’ tiveram tamanho impacto quanto aqueles assinados por alguém que ninguém conhece, sendo recitados amplamente na imprensa portuguesa. Os de ‘Sebastião Pereira’ no “El Mundo”.
Ora veja-se em títulos: “Correio da Manhã”: “‘El Mundo’ fala em caos e põe Costa em causa – Jornal espanhol sublinha a falta de coordenação das autoridades portuguesas”; Rádio Renascença: “Pedrógão Grande. Jornal espanhol diz que “gestão desastrosa pode pôr fim a carreira política de Costa” – ‘El Mundo’ resume o que classifica de “caos” em “64 mortos, um avião fantasma e 27 aldeias evacuadas”; “Expresso”: “Uma devastadora tormenta de chamas”: como o mundo olha para Pedrógão Grande”; “Sábado”: “El Mundo aponta “inoperância” de Portugal na luta contra o fogo – Jornal espanhol diz “que este terrível episódio mostra que Portugal não está preparado para fazer frente ao fogo”, sendo que este último referia um editorial e não uma das oito ‘notícias’ assinadas por ‘Sebastião Pereira’, mas tendo em conta que a direção do “El Mundo” escrevia perante uma reportagem aparentemente enviesada, a contaminação estava feita, não só no periódico espanhol como para a comunicação social lusa.
Sebastião Pereira, caso exista, confunde até o calendário eleitoral português: o alegado correspondente escreve que “a evidente falta de coordenação entre as autoridades provocou uma enxurrada de críticas à gestão do desastre por parte do governo do primeiro-ministro, António Costa, e em particular da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, a menos de quatro meses das eleições legislativas”, quando em outubro se realizarão as eleições autárquicas e não as parlamentares.
No dia de ontem, quando o caso começou a ganhar mais exposição nas redes sociais e a ser devidamente investigado, o “El Mundo” já não publicou nenhum texto assinado por ‘Sebastião Pereira’. Falta ainda uma pronunciação sobre o caso.
(Tendo em conta o facto de o autor deste artigo partilhar o nome próprio com o correspondente-fantasma do “El Mundo”, e o facto de jornalistas terem averiguado se se trataria da mesma pessoa, fica aqui esclarecido que estou neste momento bem mais próximo de D. Sebastião que de Sebastião Pereira. Só ainda não cheguei a Alcácer-Quibir.)