Uma tragédia a de Pedrógão Grande. Horrível. Injusta. Basta!
Por mais imprevisível, imponderável, inexplicável que seja o fenómeno que desencadeou (ou agravou) o incêndio… nada justifica a dimensão da desgraça, com tantas mortes, tantos feridos, tanto descontrolo, tão triste balanço.
Perante uma situação de emergência, o pânico é o pior conselheiro e, no momento do combate, a tentativa de apuramento de responsabilidades ou de as sacudir para o capote do vizinho absolutamente inútil, contraproducente, condenável até.
Quando o tempo é de agir, há que manter o máximo de frieza e bom senso e, estando mais do que definida a linha de comando, seguir as suas ordens e orientações, porque vindas de quem melhor preparado para enfrentar situações críticas – por isso lhe estará confiado o comando. Salvar vidas é a primeira das prioridades. Salvar os bens de todos e de cada um imediatamente as seguintes.
Nem tudo tem que fazer sentido, nem tudo tem que ser comunicado e explicado, porque não há tempo a perder com o que é secundário e, nos momentos críticos, tem de ser secundarizado.
Para todo esse resto, lá chegará o tempo. Sobejamente.
Tem é de haver comando. E comando preparado para lidar com situações de tensão, dramáticas, trágicas mesmo, sem perder o controlo emocional, o discernimento, o profissionalismo, o sentido de Estado e de missão.
Em momentos de maior complexidade, quem responsável não pode fugir ou parecer que foge do teatro das operações quando a situação aperta, nem perder o controlo emocional com as piores notícias ou perante os piores cenários ou fantasiar e precipitar-se em conclusões sobre tão cruel realidade.
Mas uma vez controladas as operações, e perante uma tragédia com perda de vidas humanas (nem que fosse de uma só e infelizmente foram muitas dezenas mais) e tamanhos prejuízos patrimoniais e ambientais, não pode deixar de exigir-se o apuramento total das causas de tudo o que se passou, antes e durante a emergência, e responsabilidades. A todos os níveis.
A unidade e solidariedade nacionais – que, uma vez mais e felizmente, se verificou – não devem prejudicar nem são prejudicadas pelas ilações e consequências que necessariamente há a retirar.
A torpe generalização de responsabilidades ou a remissão de todo o mal para imponderáveis da natureza não é mais do que a tentativa de desresponsabilização de todos e mais algum e fazer com que nunca se atalhe caminho para que de uma vez por todas se faça frente a uma realidade demasiadamente má e duradoura.
Uma tragédia destas tem de ter consequências. Todas as consequências. Morreram crianças, famílias, idosos, um bombeiro, houve mais de duas centenas de feridos.
Faça-se o que tem de ser feito. Está tudo mais do que estudado. Os erros são mais do que conhecidos. As soluções também.
Até já se sabe que cada vez mais temos de ponderar a coexistência com imponderáveis e a necessidade de estarmos preparados para responder a esses… imponderáveis.
Portugal, a tragédia de Pedrógão Grande provou-o, não está minimamente preparado para responder a uma situação tão crítica e… imponderável.
Não há desculpa, tudo falhou. A começar pelo desordenamento do território e da floresta, e das bermas estradas, pelos meios de previsão e alerta, seguindo-se a ineficiência dos mecanismos de deteção, agravando-se escandalosamente pelas falhas no sistema de comunicações e redes de emergência e terminando no comando e na comunicação.
Como pode deixar-se tanta gente fugir para o fogo?
Sexta-feira, véspera do dia fatídico. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) lança o alerta: no fim de semana, nove dos 18 distritos do continente estão com risco extremo de incêndio. No sábado, de manhã, as previsões mantêm-se.
Os nove distritos com risco máximo de incêndio são Beja, Bragança, Castelo Branco, Faro, Guarda, Portalegre, Santarém, Vila Real e Viseu.
Os alertas do Instituto do Mar e da Atmosfera são comunicados a todas as autoridades e difundidos pelos meios de comunicação social. Pelos jornais, pelas rádios, pelas televisões.
Em princípio, em função de tais alertas, a Proteção Civil acionará os meios adequados e condizentes com o grau de risco de cada distrito e concelho.
Ora, se assim é, como aconteceu tamanha desgraça em Pedrógão Grande?
Pedrógão Grande? Ui, nem o concelho nem o distrito de que é parte integrante, Leiria, estão na lista de risco máximo divulgada pelo IPMA? Pois não estão («margem de erro», diz o presidente do Instituto).
Obviamente que não é admissível tamanho erro quando metade dos distritos do continente estão na lista e logo aquele, Leiria, não está.
E se estivesse? O que teria mudado?
Afinal, numa altura em que as alterações climáticas estão cheias de imponderáveis, qual a fiabilidade das previsões do IPMA? Ou, se assim é, para que servem?
E, mal foi detetado o incêndio e encerradas as primeiras estradas, como foi possível a GNR desviar a circulação de viaturas para uma estrada que se revelou fatal? O sistema de comunicações falhou. Por segundos, minutos ou, ao que parece, horas… Não pode, senhores. Não pode!!!
Os bombeiros da Galiza são barrados por que não houve comunicação? Será verdade que portugueses e espanhóis têm sistemas de comunicação incompatíveis? Será possível?
E não há responsáveis???
Ai há, há! Políticos, técnicos, de comando, de previsão e alerta, de comunicação…
Não chega pôr gravata preta, fazer luto e ser solidário ou dar apoio às vítimas e familiares das vítimas.
Houve falhas, e muito graves, e o resultado foi trágico. Tem de haver consequências. A todos os níveis. Para que não se repita tamanha desgraça, mesmo quando os incêndios ganharem dimensões imponderáveis.
Há que respeitar a «ficha do tempo» – como lhe chamou a bem intencionada ministra Constança Urbano de Sousa.
Houve 64 mortos e mais de duas centenas de feridos. O comando falhou!
O incêndio está finalmente em rescaldo. Há que tirar todas as consequências. A todos os níveis.
E agora já é a hora! Porque basta!!!