Juntar duas paixões, a moda e a tecnologia. Foi esta a fórmula de sucesso encontrada por José Neves, CEO da Farfetch e que torna hoje a empresa numa das start-ups mais bem sucedidas, estando atualmente avaliada em mais de mil milhões de dólares (quase 894 mil milhões de euros) e já com escritórios em vários pontos do mundo e com sede em Londres. «A ideia surgiu em 2007 numa Paris Fashion Week, quando José Neves, CEO da Farfetch, percebeu que as boutiques de moda de luxo compravam cada vez menos e, pelo contrário, os negócios online compravam cada vez mais. Isto potencialmente criava um problema para o negócio dele que se traduzia em menos encomendas e muito concentradas numa pequena parte da coleção, pondo em risco a diversidade da mesma”, explicou ao b,i. o diretor-geral da Farfetch, Luís Teixeira.
Da ideia à concretização do negócio – nascido num ambiente de recessão e de dificuldade para o mercado de boutiques multimarca – foi um passo. «A Farfetch acabou por surgir como uma solução aparentemente simples mas muito criativa, que juntou duas paixões: a moda e a tecnologia. A ideia acabou por se transformar numa receita de sucesso muito também pelo facto de surgir para fazer face a um problema real e permitir que as boutiques, enquanto comunidade, pudessem aceder ao mercado global e competir com os gigantes do online», diz o responsável.
E os números falam por si: a empresa tem crescido a um ritmo acelerado, na casa dos dois dígitos. Um cenário «que não é assim tão comum no panorama empresarial», admite Luís Teixeira. A Farfetch conta atualmente com mais de 1700 colaboradores em todo o mundo – cerca de mil em Portugal – e oferece serviços em mais de 200 países através da plataforma, do website e da aplicação móvel. «Levamos a compra de artigos de moda de luxo diria que a quase qualquer ponto do mundo, através da parceria com mais de 500 boutiques, 100 marcas e mais de mil designers. Os nossos parceiros estão situados em 43 países. No total, temos mais de 2.200 marcas online», salienta.
O investimento que tem sido realizado também representa uma peça importante para completar o puzzle do sucesso. Até ao momento, foram investidos mais de 268 milhões de euros (cerca de 300 milhões de dólares). A mais recente aposta fez-se em Lisboa com a abertura do décimo escritório da Farfetch, mas o terceiro em Portugal – já estava presente em Guimarães e no Porto. Este novo espaço exigiu um investimento de um milhão de euros e vai implicar a contração de novos trabalhadores, um total de três milhões de euros nos últimos 12 meses, em Portugal. «O crescimento do negócio impulsiona, naturalmente, o crescimento da equipa. No último ano integrámos cerca de 460 pessoas em Portugal, e estamos a recrutar mais 500 até ao final do ano, das quais cem em Lisboa. Estes números mostram que temos vindo a ter uma elevada responsabilidade na retenção de talento em Portugal. Vamos continuar a fazê-lo sobretudo em áreas científicas, tecnológicas e operacionais», afirma o diretor-geral ao b,i.
O novo espaço em Lisboa permite não só crescer e reforçar a equipa de tecnologia como também continuar a responder com inovação aos desafios do cliente do futuro. Trata-se de um espaço com três mil metros quadrados, equivalente a dois pisos e com capacidade para 300 pessoas. «Nos próximos meses, será suficiente para acolher a nossa estrutura em Lisboa», acrescenta.
Revolucionar o mercado
A palavra de ordem para a Farfetch é continuar a crescer, mas a crescer «a um ritmo acelerado». No ano passado, a empresa cresceu 70% e tem conseguido manter esta tendência durante este ano. «Sempre acreditámos neste potencial, a nossa estratégia está há muito bem definida. Fomos desenvolvendo o negócio e investindo para que a nossa capacidade de inovação e operação nos colocasse nesse patamar e este é o resultado que claramente nos deixa muito satisfeitos», assume Luís Teixeira.
Mas a ambição não fica por aqui. A empresa quer revolucionar o retalho e «transformar a experiência de compra do futuro». O responsável admite que a Farfetch vai continuar a ser uma empresa que acredita no retalho físico da moda de luxo, uma vez que as lojas representam globalmente mais de 90% das vendas e o online menos que 10%. Ainda assim, admitem que retalho está a evoluir de uma situação em que as decisões são tomadas com base em canais para serem tomadas com base nos clientes. «É precisamente por esta razão que não faz sentido pensar numa plataforma para o mundo da moda de luxo em que não são tidos em conta todos os pontos de contacto com clientes».
Luís Teixeira lembra ainda que alguns estudos indicam que haverá margem para o online crescer até 25%, mas há um conjunto de experiências de loja que ainda não se podem replicar digitalmente pois a moda é algo físico. «É nesse sentido que estamos a trabalhar para que a experiência de loja possa ser aumentada e a tecnologia terá um papel preponderante nesse processo. É aquilo a que chamamos de ‘Store of the Future’».
Como vai funcionar esta tal loja do futuro? O diretor-geral da Farfetch explica: «é a tecnologia a fazer uma revolução, a entrar pelas lojas físicas e a criar a transição perfeita entre o online e o offline. É a nossa capacidade de criar uma experiência de compra aumentada, em que a loja conhece e influencia o cliente e não importa se este está na loja física ou na loja online», salienta.
Ainda durante este ano, o conceito ‘Store of the Future’ vai ser implementado na loja da Browns, em Londres, e também na Thom Browne, em Nova Iorque.
Também nos planos da empresa está a entrada em bolsa, mas Luís Teixeira não se quer comprometer com prazos. «O IPO [oferta pública inicial] é um passo que queremos dar e estamos a trabalhar nesse sentido. Não estamos pressionados por nenhuma data. Será um passo natural, mas ainda não existe um timming estabelecido para o mesmo», diz ao b,i.