Depois dos mil jovens ingleses entre os 19 e os 22 anos – dos quais 600 provocaram o caos na Rua da Oura, em Albufeira – são esperados hoje mais 1800, aumentando o receio junto dos empresários desta zona, como confirmou ao i Liberto Mealha, proprietário do bar Liberto’s, onde começaram os desacatos na madrugada de domingo. “Esta situação é muito complicada porque degrada o turismo nesta localidade”, diz, acrescentando ainda que Albufeira é vista atualmente como um local de “turismo de grupos que acaba por afastar outro tipo de turistas”.
Em causa está o programa Portugal Invasion, que levou até Albufeira, desde a passada quarta-feira, cerca de mil jovens ingleses. Uma operadora vendeu pacotes turísticos para esta localidade por 600 libras (cerca de 678 euros) em regime de tudo incluído. E, ao que tudo indica, não vai ficar por aqui, apesar de este programa já ter terminado ontem, segundo o site da empresa.
Ainda assim, Liberto Mealha admite que a presença policial tem sido reforçada nos últimos dias para desincentivar este tipo de conflitos. Mas reconhece que é um aparato que também tem inconvenientes. “Quem não pertence a este tipo de grupos também se assusta com este reforço policial. Imagine o que é um casal com filhos ser confrontado com uma imagem destas”, salienta ao i.
Mas os problemas não ficam por aqui. Liberto Mealha diz ainda que, a partir da próxima semana e até 20 de agosto, são esperados 4000 turistas holandeses semanalmente. “Albufeira foi transformada num destino de massas que não tem interesse nenhum, e não foram criadas normas de conduta para responder a eventuais problemas com este tipo de grupos”, sublinha.
Também o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) reconhece que há um problema “nos pacotes de viagens vendidos online a muita gente, com pouco controlo”. Para Desidério Silva, “são necessárias medidas e ações no imediato, inibidoras deste tipo de situação, que envolvam as forças de segurança, o SEF, a autarquia, os empresários, e que sejam coordenadas com o governo”.
O responsável chama ainda a atenção para a necessidade de identificar quem incentiva e quem faz as vendas deste tipo de pacotes. “Quem são estes agentes que estão a contribuir para isto? O dinheiro não é tudo, é importante que as forças intervenham e tomem medidas, porque isto prejudica a imagem da região”, salienta.
Desidério Silva diz ainda que o Algarve é conhecido, enquanto destino turístico, pela sua segurança, e “qualquer ação destas tem impactos negativos”.
Batalha campal
Na madrugada de domingo, este grupo de turistas começou a provocar distúrbios no interior do bar Liberto’s, tomando conta do bar sem que os seguranças do espaço os conseguissem controlar. “Tivemos de chamar a GNR para conseguir dispersar centenas de turistas”, afirmou o proprietário.
Os problemas ganharam outros contornos já na rua, com os turistas a agredirem e a atirarem garrafas à GNR de Albufeira. Os agentes foram obrigados a usar balas de borracha para dispersar a multidão.
Além dos problemas de violência, ao longo da semana, os comerciantes e residentes nesta zona de Albufeira queixaram-se de furtos e de vandalismo. E os bombeiros da cidade já vieram alertar para os problemas de falta de segurança que se vivem em Albufeira devido a estes grupos. Aliás, admitem que o número de casos de violência já aumentou significativamente em relação ao ano passado.
Consumo de álcool Um dos problemas apontados por Liberto Mealha diz respeito ao elevado consumo de álcool por parte destes grupos. A verdade é que esta realidade é admitida por um estudo feito por uma agência de viagens low-cost britânica, a Sunshine.co.uk, depois de ter inquirido 2636 jovens ingleses com mais de 21 anos que tinham viajado nos últimos 12 meses e eram residentes no Reino Unido.
Segundo o estudo, 24% dos turistas ingleses revelam que passam todos os dias das férias alcoolizados. E garantem que, do valor total que têm ao seu dispor para gastar durante estes dias, 1/5 do orçamento é apenas para bebidas alcoólicas.
Feitas as contas, estes jovens gastam em média 30 euros por dia em álcool, ou seja, cerca de 220 euros em sete dias. E admitem que, face ao seu comportamento, os dias de férias são passados de forma pouco lúdica: quer nos quartos de hotel (26%), quer deitados numa espreguiçadeira o dia todo (24%) ou a consumir mais álcool (13%).
Já 76% dos inquiridos revelam também que estes hábitos de consumo de álcool são muito mais elevados nas férias do que durante o resto do ano.
Ocupação hoteleira
De acordo com os últimos dados, o Algarve registou em maio uma taxa de ocupação hoteleira de 73%, um aumento de 4,4% comparativamente com o mesmo período de 2016, registo superado apenas no ano 2000. Segundo a Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), o volume de vendas no mês de maio acompanhou o crescimento da taxa de ocupação, registando-se um aumento de 14% relativamente ao mesmo período do ano anterior.
Os mercados britânico (mais 12,9%), irlandês (+15,5%) e francês (+7,2%) foram os que mais contribuíram para a subida verificada. No concelho de Albufeira, a principal zona turística do Algarve, verificou-se uma subida de 3,1%.
No entanto, as maiores subidas ocorreram em Tavira (+15,1%), Monte Gordo/Vila Real de Santo António (+5,5%) e Vilamoura/Quarteira/Quinta do Lago (+5,2%).