Fogos. Geringonça unida contra direita em defesa do governo Costa

O PSD e o CDS quiseram encostar o executivo às suas responsabilidades políticas. Mas o PCP, Bloco e Verdes formaram um cordão de segurança em defesa do governo

O PSD e o CDS bem querem trazer a tragédia de Pedrógão Grande para o confronto político, mas PS, PCP e Bloco de Esquerda ergueram um cordão sanitário em torno do governo, deixando isolada a minoria parlamentar.

No segundo debate parlamentar dedicado ao incêndio de Pedrógão, o PSD nomeou Teresa Morais, deputada por Leiria,  para desancar violentamente no governo. “13 dias passaram sobre a tragédia que esmagou uma nação inteira mas respostas esclarecedoras não chegaram. Aquilo que entretanto se foi sabendo, com relatórios que atropelam relatórios sobre a mesma matéria nada esclarece o país sobre a verdade que precisamos de conhecer! Pelo contrário, instala a confusão, numa estratégia de passa-culpas e de desresponsabilização que não pode continuar!”.

Bloco de Esquerda e PCP não toleraram aquilo a que José Manuel Pureza chamou “um PSD profundamente desnorteado”. “Introduzir este debate sem falar no ordenamento florestal mostra o que o PSD quer que se debata aqui e o que o PSD não quer que se debate”, invectivou Pureza que acusou os sociais-democratas de estarem a fazer “puro jogo político” e “exploração da vontade das pessoas de terem uma resposta”. O histórico do Bloco de Esquerda argumentou ainda com as responsabilidades do PSD na renegociação do contrato do SIRESP, quando “em 4 de abril de 2015 reduziu o preço a pagar ao Estado em 25 milhões de euros”.

Enquanto José Luís Ferreira, de “Os Verdes”, ridicularizava Passos – “Ficámos a saber que Passos Coelho diz que o eucalipto é onde o fogo se apaga com mais facilidade” – também o PCP, através de Jorge Machado, veio dizer que “não alinhava no espectáculo degradante” que estaria a ser dado pela bancada do PSD. A social-democrata Teresa Morais começava a ficar exasperada: “Não fomos eleitos para fazer com o PS um pacto de silêncio. Fomos eleitos para fazer as perguntas que os cidadãos fazem e cujas respostas o governo ainda não deu”. 

Constança Urbano de Sousa, que esteve no debate com o seu secretário de Estado Jorge Gomes e o ministro do Planeamento Pedro Marques respondeu que continuava sem respostas: “Há só uma certeza. O que aconteceu em Pedrógão Grande foi um incêndio. Dentro daquele incêndio aconteceu qualquer coisa de anormal (…) Houve qualquer coisa que aconteceu a partir das 19 horas que fez com que tenha existido uma absolutamente anormal propagação daquele incêndio”. “No terreno todos me disseram que não tinham visto nada assim, uma espécie de tsunami de fogo”, disse a ministra, que insistiu ser necessário “tempo para coligir informação fidedigna, analisar, confirmar”.  

Nuno Magalhães também foi duro com a ministra, mas nessa altura do campeonato já se tinha percebido que os partidos que apoiam o governo não o iriam deixar sozinho no momento mais grave do mandato. 

“Remeter para técnicos aquilo que é dos políticos é pouco. Aquilo que lhe pedimos é que seja ministra. A única resposta que dá é dizer que fez perguntas”, atirou Nuno Magalhães, que lembrou o facto os organismos na dependência do Ministério da Administração Interna estarem “a digladiar-se”. “Estamos a falar de um Ministério em que a cadeia de comando é fundamental!”, disse o centrista, lembrando à ministra que é ela que comanda a secretaria-geral da Administração Interna. 

Jorge Lacão, do PS, afirmou que todo o debate sobre o incêndio de Pedrógão, tinha sido “um equívoco”: “O que o PSD aqui trouxe foi conversa de ouvir dizer e conversa de ouvir dizer é o que os portugueses menos precisam neste momento”. 

A geringonça unida jamais será vencida. Pelo menos no que toca ao incêndio de Pedrógão.