O regime norte-coreano parece ter ultrapassado uma importante linha vermelha esta terça-feira. Pyongyang testou com sucesso aquilo que diz ser o seu primeiro míssil intercontinental, um dispositivo que pode ser capaz de atingir mais de seis mil quilómetros e chegar a território norte-americano armado – é uma possibilidade – com uma ogiva nuclear. Trata-se de um desenvolvimento que pode inaugurar novas e mais violentas respostas ao regime.
O governo de Kim Jong-un exagera regularmente os seus sucessos balísticos e nucleares. Fê-lo novamente esta terça, ao afirmar que o seu novo míssil intercontinental – há muito um objetivo em Pyongyang – pode “atingir o mundo inteiro”. A declaração descabida, no entanto, parece ocultar uma ameaça real. De acordo com vários observadores e analistas, o míssil desta terça-feira pode, de facto, atingir o estado americano do Alasca.
“Se os dados preliminares estiverem corretos, este míssil pode alcançar uma distância máxima de cerca de 6700 quilómetros numa trajetória linear”, explica David Wright, do Conselho dos Cientistas Consternados, uma organização que monitoriza grandes ameaças à vida humana no planeta. Essa distância, segundo afirmou Wright ao “El País” é suficiente para atingir todo o Alasca, embora nenhum outro estado americano.
North Korea says it launched an ICBM on Tuesday. Analysts say it could have a range of 6,700 km. pic.twitter.com/MVhyzGbMZ3
— AFP news agency (@AFP) July 4, 2017
Este dado não é líquido. O exército americano afirma que o míssil testado esta terça – que o regime diz tratar-se de um Hwasong-14 – trata-se, na verdade, de um projétil de médio-alcance. O voo desta manhã parece indicá-lo: o engenho alcançou quase os 3000 metros de altitude, esteve no ar 39 minutos e ficou a pouco dos mil quilómetros de alcance (930 quilómetros, segundo as autoridades sul-coreanas).
A distância é superior à de projéteis passados, mas inferior à de 4800 quilómetros que é o alcance mínimo para um míssil intercontinental. Em todo o caso, o míssil desta terça-feira foi lançado num ângulo muito agudo, favorecendo a altitude em detrimento da distância. O próprio regime anunciou que “o teste de lançamento foi conduzido no ângulo mais agudo possível e não teve efeitos negativos noutros países”.
Observadores afirmam que, num outro ângulo, o míssil pode percorrer a distância de um engenho intercontinental. “Parece que o teste foi bem-sucedido”, explicava esta terça Kim Dong-yub, um especialista militar da Universidade de Kyungnam, ouvido pela Reuters. “Se for lançado num ângulo convencional, o míssil pode ter um alcance superior aos oito mil quilómetros”, argumenta.