O general Rovisco Duarte está sob forte contestação dentro do Exército, mas tem a confiança do comandante supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa.
Segundo o i apurou junto de fontes de Belém, o Presidente da República acredita que o general Rovisco Duarte está a fazer um bom trabalho colaborando com a investigação e que nenhum problema se resolveria – ou eventualmente até se agravaria – com a destituição deste chefe do Estado-Maior do Exército.
A situação de instabilidade vivida neste momento nas fileiras do Exército não impressiona o Presidente a ponto de achar que o comando do general Rovisco Duarte deva ser questionado.
O que o Presidente quer – e voltou ontem a repeti-lo antes da visita que fez a Tancos com o ministro da Defesa e durante essa visita – é, como o próprio diz, “muito simples”.
“Pensando no prestígio de Portugal, no prestígio das Forças Armadas, pensando na autoridade do Estado e na segurança das pessoas, é muito simples: tem de se apurar tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer”, disse o Presidente da República.
Marcelo voltou a vincar que o caso de Tancos exige “uma investigação total, integral” que não pode deixar “ninguém imune”. Trocando por miúdos: o Presidente está contra todas as manifestações corporativas que procurem evitar que toda a verdade sobre o assalto a Tancos venha ao de cima. Para Marcelo, as Forças Armadas têm a obrigação de estar sujeitas ao mesmo escrutínio que todas as instituições de soberania do país, não continuando a viver num mundo à parte, apenas regidas pela justiça militar. Mas mudar de chefe de Estado-Maior do Exército é um assunto que está fora do pensamento do Presidente da República.
A investigação sobre o assalto a Tancos já começou ao mais alto nível: o Ministério Público acredita que as armas roubadas em Tancos foram destinadas ao terrorismo internacional e iniciou a investigação
Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República afirmou ontem que “estão em causa, entre outras, suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional”.
“Atenta a natureza e gravidade destes crimes e os diferentes bens jurídicos protegidos pelas respetivas normas incriminadoras, o Ministério Público decidiu que a investigação relativa aos factos cometidos em Tancos deveria prosseguir no âmbito de um inquérito com objeto mais vasto a ser investigado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).”
A Procuradoria-Geral da República informou ainda que o Ministério Público “é coadjuvado pela Unidade Nacional Contra Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, com total colaboração institucional da Polícia Judiciária Militar”.
Ontem foi um dia duro para as Forças Armadas. Para além de se ficar a saber que a investigação a Tancos iria ser dirigida pelo DCIAP, a Polícia Judiciária anunciou a detenção de 12 militares da Força Aérea – onde se incluem um major-general, um tenente-coronel e um major – suspeitos de corrupção, abuso de poder e falsificação de documentos no caso do comércio de alimentos nas messes da Força Aérea. Entre os detidos há também três capitães, cinco sargentos e quatro empresários.
Esta é a segunda fase da chamada “Operação Zeus”. Na primeira, em novembro, foram detidos cinco militares por corrupção ativa e passiva para ato ilícito e falsificação de documentos. A PJ suspeita que todos estão envolvidos num esquema de sobrefaturação nas cantinas da Força Aérea.
Na segunda fase da operação realizada ontem estiveram 130 elementos da Polícia Judiciária e 10 procuradores do Ministério Público. Houve 36 buscas.
CEME no parlamento A comissão parlamentar de Defesa aprovou ontem a chamada à Assembleia da República do chefe de Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, e do ministro da Defesa, José Azeredo Lopes.
O general será ouvido amanhã pelos deputados da Comissão de Defesa, e o ministro na sexta-feira.
A oposição tinha pedido a audição do ministro e do chefe de Estado-Maior e o PS propôs que o CEME fosse ouvido antes do ministro. Todos os partidos foram unânimes na necessidade de apurar todas as responsabilidades.
João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda, falou na situação “gravíssima”, pedindo que se apure “todas as responsabilidades custe o que custar, doa a quem doer” para recuperar “a confiança dos cidadãos”. António Filipe, do PCP, disse que Tancos “é um sinal do estado de degradação a que as Forças Armadas foram conduzidas há muitos anos”.