A violência contra instituições do poder público venezuelano sucede-se de semana para semana. Esta quarta-feira, dezenas de apoiantes do governo de Nicolás Maduro invadiram à força a Assembleia Nacional com a aparente aquiesciência do oficialismo e lá agrediram vários deputados da oposição, visitantes e jornalistas que celebravam o aniversário da declaração da independência.
O ataque acontece praticamente uma semana depois de um antigo polícia ter roubado um helicóptero e disparado granadas e tiros contra os edifícios do Supremo Tribunal e do Ministério do Interior. A um ataque antigovernamental sucede-se um a favor de Maduro.
O ataque da semana passada não causou feridos, mas o desta quarta-feira deixou um rasto de deputados e jornalistas ensanguentados. A Assembleia Nacional é o principal símbolo de poder da oposição venezuelana, que lá conquistou uma maioria absoluta há dois anos e desde esse momento é manietada pelo oficialismo, que controla o Supremo Tribunal.
VIDEO Fuimos ELECTOS para defender al PAÍS. Hoy #5Jul la barbarie se quiere imponer a la CIVILIDAD ¡ABAJO LA DICTADURA! pic.twitter.com/pDZwekiQqc
— Armando Armas (@ArmandoArmas) July 5, 2017
O “El País” dava conta de cinco deputados feridos, todos da oposição: Nora Bracho, Armando Armas, Américo De Grazia, Luis Padilla e José Hernández. “Uns golpes não são nada”, disse Armando Armas num vídeo, de camisa ensanguentada e recebendo cuidados médicos. “Já quase cem jovens foram mortos”, lançou, falando da violência que dura desde março e que já matou pelo menos 70 pessoas.
Suspeitas
As agressões aconteceram ao final da manhã, por volta das 11 horas locais – meio da tarde em Portugal – e à sua volta multiplicam-se suspeitas de que foi o próprio governo a encomendá-las. De forma direta ou indireta. Momentos antes das invasões, a Assembleia Nacional reecbia um convidado inesperado: o vice-presidente venezuelano, Tareck El Aissami, que ninguém esperava porque o seu governo faz o melhor por ignorar os trabalhos dos deputados da oposição e já tentou de várias formas esvaziar o poder do máximo órgão legislativo no país.
As declarações de Aissami pareceram antecipar a invasão. “É a hora dos populares”, disse Aissami, numa das salas do edifício. “O povo que tenha pés que venha a esta sala prestar juramento de novo e assumir esta proclamação para conduzir nos tempos futuros o nosso país até a uma grande vitória”, disse, mencionando a declaração da independência venezuelana.
E depois, uma mensagem previdente: “Os que estão no caminho da traição, ambição e projetos pessoais, que continuem assim. Por cada traidora ou cada traidor chegarão milhares de milhões de revolucionários com a bandeira de Bolívar e Chávez.”
Segurança desaparecida
As suspeitas tornam-se mais acutilantes levando em conta que ao lado de Aissami estava Bladimir Lugo, o próprio comandante da Guarda Nacional a quem cabe proteger o edifício da Assembleia Nacional. De acordo com o “El País”, nem Lugo nem os seus homens da Guarda Nacional foram avistados durante a invasão.
E Lugo, para além do mais, saltou para a atenção pública nos últimos dias, graças a um vídeo que circulou nas redes sociais e em que o comandante discute acesamente com o presidente da Assembleia, Julio Borges, dando-lhe um empurrão.
Ainda segundo o diário espanhol, no momento em que acontecia a invasão à Assembleia, televisões e rádios nacionais transmitiam cenas do desfile militar que celebrava o dia da declaração da independência. No desfile encontrava-se Nicolás Maduro, que, até ao início da noite desta quarta-feira, não havia ainda respondido aos incidentes.