1.O “i” é cada vez mais o jornal diária com maior impacto: só na última semana, já marcou a actualidade político-mediática em três ocasiões. Primeiro, divulgando, em primeira mão, a verdadeira prioridade de António Costa no pós-tragédia de Pedrógão Grande (o focus group para testar a sua popularidade), a cada vez mais provável demissão de três Ministros do Governo geringonçado (reclamada mesmo pelo PS) e…as férias de António Costa depois de uma das maiores tragédias do Portugal democrático, bem como de uma crise de autoridade do Estado Português sem precedentes.
Crise que lança a insegurança entre os portugueses, dá uma imagem do nosso país como a verdadeira institucionalização do caos administrativo – e expõe Portugal ao ridículo internacionalmente, sobretudo entre os nossos aliados da NATO. Uma vergonha, portanto, deste nosso Portugal geringonçado – que, aliás, mereceu amplos comentários satíricos em Espanha. A nossa Pátria tratada como uma província irresponsável pelos nossos vizinhos espanhóis…Pior é impossível!
2.Por falar em Espanha, não deixa de ser curioso que o mesmo país que humilha Portugal em virtude da falta de segurança e desorganização reveladas nas últimas semanas pela geringonça, acaba de receber o Primeiro-Ministro para uns dias de…férias. Espanha goza com o Portugal geringonçado de Costa –e Costa vai a banhos para Palma de Maiorca.
Evidentemente que não subscrevemos as teorias da conspiração habituais por esta altura do ano, segundo as quais é o próprio Governo que passa informações directamente para os órgãos de comunicação social espanhóis, pois entende que a divulgação em Espanha tem um impacto mediático escasso e amortece o efeito de desgaste político que a sua publicação original em Portugal poderia gerar.
Ou seja, publica-se em Espanha – para depois os jornais portugueses apenas reproduzirem informação espanhola, logo, tida como pouco fidedigna ou intromissão espanhola em assuntos nacionais portugueses. Ora, para o português médio, é mais fácil, apesar de tudo, acreditar no Governo nacional – do que em jornais espanhóis, os quais nunca conseguem abandonar o tom trocista em relação ao nosso país.
3.Que é estranho que os jornalistas espanhóis consigam descobrir informações que os jornalistas portugueses, trabalhando em Lisboa, próximo do poder, não conseguem – lá isso é deveras estranho. Mas não podemos acreditar que a fonte seja o próprio Governo; caso contrário, seria o golpe final na credibilidade do Estado Português e a prova inequívoca de que a geringonça está disposta a tudo para dominar o Estado, mesmo que isso signifique o colapso de Portugal. Propendemos, pois, para julgar que as informações privilegiadas disponibilizadas aos jornalistas do país vizinho partiram de jornalistas portugueses que viram o seu trabalho censurado pela direcção do respectivo jornal ou então porque, pura e simplesmente, têm medo das retaliações que sofrerão pela ousadia de “desafiar” o “ grande e querido líder”, António Costa. Em qualquer dos cenários, fica demonstrado o quão perigosos são os tempos que vivemos, com uma maioria política que pensa que é dona de Portugal.
4.Entendamo-nos: em qualquer país do mundo, com uma democracia forte e um jornalismo verdadeiramente independente, seria uma escândalo nacional o Primeiro-Ministro, Chefe de Governo, sair do país após uma tragédia brutal do ponto de vista humano, em que a Administração Pública actuou com manifesta negligência (por culpa de ordens superiores e de decisões políticas) e outro caso, o assalto de Tancos, em que a credibilidade do Estado e sua reputação internacional saem seriamente beliscadas.
Em tempos que exigem liderança, ponderação e capacidade de resposta, eis que o nosso líder (porque, apesar das nossas divergências, Costa é o nosso Primeiro-Ministro) resolve abandonar o país. Vai de férias para Palma de Maiorca! Que diabo – não poderia António Costa marcar férias para Agosto ou para Setembro? Após esta fase crítica dos incêndios? Depois de se apurar o que sucedeu, onde o Estado falhou, perdendo 69 dos nossos concidadãos? Após se perceber o que se passa nas Forças Armadas, o que gerou o assalto a Tancos, quais as suas consequências, como se pode evitar no futuro e mostrar que Portugal é um país responsável e fiável?
Com a Embaixada dos EUA a aumentar o nível de segurança, com queixas dos nossos aliados da NATO perante o que se sucedeu – os portugueses vêem o seu Primeiro-Ministro aos banhos em Palma de Maiorca? O líder é o primeiro a abandonar o barco, quando as ondas são mais adversas…
5.Ficámos, pois, perplexos com o que foi escrito hoje numa newsletter de um jornal português: discutir o momento das férias do Primeiro-Ministro é ridículo. Como? É ridículo discutir que o Primeiro-Ministro vá de férias quando Portugal está a ferro e fogo? Quando o Estado português caiu no ridículo, interna e externamente? Os jornais ingleses, americanos, franceses são todos ridículos quando se revelam implacáveis em casos como este? Só o jornal português que escreveu tão “sábias” palavras é que não é ridículo…
Sucede, porém, que quando o Primeiro-Ministro é de outra cor, nada é ridículo: aí discute-se tudo. Se Passos Coelho fosse de férias enquanto decorressem negociações com a troika ou um incêndio, muito menor que o de Pedrógão Grande, deflagrasse – seria um escândalo nacional, com os mesmos jornalistas, que escondem ou não relevam as férias de Costa, a exigirem a demissão imediata do líder do PSD.
6.Dito isto, qual a intenção de António Costa marcar férias para a presente semana? Note-se que Costa tem feito férias, nos últimos largos anos, sempre no Algarve: desta feita, resolveu sair de Portugal. O que se percebe politicamente: Costa quis deliberadamente desaparecer do mapa, isto é, proteger a sua imagem das situações incómodas que o Governo tem vivido.
Se tivesse optado pelo Algarve, os jornalistas não o largariam, pelo que o Primeiro-Ministro não passaria incólume às polémicas dos últimos dias. O efeito útil das férias de António Costa não seria atingido – o de evitar, ao máximo, a exposição mediática do Primeiro-Ministro.
7.Por outro lado, António Costa percebeu que a sua ausência seria pouco notada. Porquê? Porque o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, preenche claramente o seu espaço, indo a todas.
Marcelo já se pronunciou sobre as matérias sobre Pedrógão Grande, já anunciou o que o Governo (e até a Assembleia da República) irá fazer e acompanhou o Ministro da Defesa a Tancos. Aliás, ver Azeredo Lopes a acompanhar Marcelo, a reunir com responsáveis do Exército ao lado de Marcelo, com Marcelo a liderar a reunião – é a prova irrefutável que Marcelo Rebelo de Sousa é o Primeiro-Ministro de facto.
Ao ponto de Azeredo Lopes ter abdicado da sua presença no “gabinete de crise” do Governo apenas para acompanhar o Presidente da República, a uma cerimónia de homenagem às Forças Armadas.
8.A presidencialização do regime, neste primeiro (único?) mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, já é um dado adquirido. Azeredo Lopes responde mais perante o Presidente da República – do que perante o Primeiro-Ministro, invertendo as regras sobre organização política da Constituição. Bem pode António Costa continuar a banhos em Palma de Maiorca – o Chefe de Governo de facto, que é Marcelo, continua a aparecer todos os dias e toma conta de todos os Ministros.
9.António Costa – quando a situação serenar – virá colher os louros daquilo que (eventualmente) correr bem…Quem se desgasta? Marcelo Rebelo de Sousa. Mas isso é problema do Chefe de Estado/ Chefe de Governo de facto…
Mas, claro, os nossos políticos de sofá (uma expressão feliz de Vítor Rainho) e os jornalistas do politicamente correcto persistem em afirmar que António Costa é um verdadeiro estadista. Claro! Ir de férias para Palma – um exemplo de genuíno Sentido de Estado! Se Portugal for à bancarrota, já sabemos o que Costa fará: férias no México, com muita guacamole, mojitos e tequilla! Podemos estar descansados…Olé, António Costa, Olé! Arriba, Costa!
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