Santa Casa no Montepio ainda neste verão

Só falta acertar pormenores. Santa Casa deverá ficar com 10% da associação mutualista e vai ter uma palavra a dizer na gestão e definição da estratégia do Montepio.

A entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa () no capital da Associação Mutualista Montepio Geral deverá decorrer durante o verão, apurou o SOL junto de fontes ligadas às negociações. «Há condições para cumprir esse prazo, falta neste momento acertar pormenores», referiram as mesmas fontes.

A entidade liderada por Pedro Santana Lopes deverá ficar com 10% do capital da associação mutualista e com esta participação tem uma palavra a dizer no que diz respeito à gestão e à definição estratégica do Montepio. Ainda não está definido o valor desta participação, mas as mesmas fontes garantem que «um banco com estas características é sempre mais caro e isso tem de ser ponderado nas negociações», revelam ao SOL.  

Também em discussão estão temas relacionados com a forma como vai ser gerida a instituição financeira, nomeadamente como vai funcionar o banco social,  como vai interagir com as instituições, qual vai ser o formato de gestão e qual vai ser a própria estrutura do banco. 

A verdade é que a Associação Mutualista, nesta última semana, tem dado passos largos para que a entrada da Santa Casa se concretize. A entidade liderada por Tomás Correia vai sair de bolsa – depois de ter lançado esta semana uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) às unidades de participação­ –   para que o valor de mercado da Caixa Económica não seja um obstáculo na definição do preço para a entrada da instituição liderada por Santana Lopes.

A ideia de retirar a Caixa Económica Montepio Geral de bolsa terá começado a ser discutida já no âmbito das conversações informais com a Santa Casa, uma vez que, se continuasse a estar cotada em bolsa, existiram mais obstáculos à definição do preço de entrada, principalmente devido à volatilidade do preço das ações do banco.

Tomás Correia veio justificar esta operação, garantindo que esta iniciativa se insere no processo de transformação da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) em sociedade anónima – uma decisão aprovada pelo acionistas em abril passado – e tem por objetivo «dar cumprimento à estratégia definida pela Associação Mutualista de tornar a CEMG a instituição financeira da economia social».

 

Capital reforçado

A OPA surge dias depois de a Caixa Económica ter anunciado a realização de um aumento do seu capital institucional, no montante de 250 milhões de euros. Este aumento de capital possibilita «o reforço das condições de desenvolvimento do negócio», disse José Félix Morgado, presidenta da instituição financeira, acrescentando ainda que «responde não só às exigências do regulador, como também às recomendações» do Banco de Portugal, o que irá permitir elevar os rácios de capital do Montepio para o nível dos demais bancos do sistema com melhores rácios de capital.

 

Novos acionistas

Um dos objetivos de transformar o banco liderado por Félix Morgado em sociedade anónima era a possibilidade de abrir o capital da instituição financeira a outros acionistas. Essa realidade está prestes a ser concretizada com a entrada em breve da Santa Casa.

Mas tudo indica que a entidade liderada por Pedro Santana Lopes não vai entrar sozinha.

O presidente da União das Misericórdias já veio admitir que tem abertura para uma entrada no capital do Montepio desde que este se torne um banco de economia social. Manuel Lemos responde assim ao apelo de Santana Lopes, que, por várias vezes, revelou que não iria entrar sozinho. Ainda esta segunda-feira, o provedor da SCML afirmou que a instituição só «participará num processo estratégico, amplo, de todo o setor social», e que não «aparecerá sozinha, individualmente, em nada».  

O presidente da União das Misericórdias disse várias vezes que apoiava um banco que agregasse os diferentes atores da economia social. Temos exemplos na Europa, como o Rabobank ou o Crédit Agricole, e em Portugal, o Montepio e o Crédito Agrícola. A SCML é o parceiro fundamental de um objetivo comum da economia social.

 

Títulos instáveis

O valor das unidades de participação têm vindo esta semana a igualar o preço oferecido na OPA, um euro. Este é o valor mais elevado  desde dezembro de 2013, um dia depois da estreia dos títulos em bolsa. Isto significa que os pequenos investidores que compraram estas unidades nos balcões da instituição financeira não perdem dinheiro na operação. Neste momento, a associação controla 73,5% do fundo, estando 26,5% das unidades dispersas por outros investidores, nomeadamente entidades do terceiro setor.

Para o analista contactado pelo SOL, Henrique Dias, da XTB, «é expectável que os títulos continuem a negociar em alta, contudo abaixo do valor oferecido pela Associação Mutualista». E o gestor explica este comportamento: «Dado o risco específico das unidades e o desconforto dos investidores em estar a comprar em máximos, verifica-se alguma instabilidade da cotação». E acrescenta: «Acredito que o valor oferecido se irá manter, no entanto tenho serias dúvidas que o preço das unidades se mantenha nestes valores elevados depois da operação». Henrique Dias acredita ainda que a expectativa de que possa ocorrer uma correção à forte valorização ocorrida está a penalizar a força compradora.