Atos que os agentes, com idades que rondam os 30 anos e que estão colocados naquela esquadra há cerca de três anos, terão cometido sobre contra seis jovens de origem cabo-verdiana, habitantes da Cova da Moura.
Uma realidade que não passa pela cabeça do presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, para quem “alguma coisa está mal explicada”. Ilação que tirou depois de ter conversado com alguns dos polícias acusados pelo MP que dizem que o que consta na acusação não corresponde à realidade.
Tortura “é um ato continuado durante um período alargado de tempo”, sublinhou Paulo Rodrigues, é “gravíssimo”. E “não me parece que nesta polícia, que conheço bem, esteja presente situações de tortura. Não me passa pela cabeça. Nem me parece que seja esta polícia, parece que estamos a falar de uma polícia que não tem nada que ver com esta”, diz ao i o representante dos polícias.
Paulo Rodrigues estranha ainda que toda a esquadra tenha “aceite bem” atos de tortura, sobretudo “no século XXI” e quando o recrutamento de polícias “já é feito com algum cuidado”. Hoje, explicou ainda o presidente da ASPP, antes de entrar no ativo, cada agente é sujeito a uma entrevista “para analisar o perfil de cada um” e no curso de formação são “monitorizados os potenciais perfis problemáticos” e quando são identificados “por norma não terminam o curso”.
O representante da PSPteme que a relação entre a polícia e os habitantes da Cova da Moura venha a “piorar”. A tendência dos moradores destes bairros “é proteger” quem lá mora através de reações contra a polícia. E caso nada seja feito “poderão vir a ocorrer com mais regularidade”. Para evitar que a relação da PSPvenha a “piorar”, o número de agentes daquela esquadra deveria “ser o dobro”. Cenário que com o recrutamento de 300 polícias por ano “é muito difícil”.
Com mais agentes seria possível, defende Paulo Rodrigues, voltar a aplicar o patrulhamento de polícia de proximidade que hoje não existe. Sem “a relação de proximidade, a polícia é vista como o inimigo. E, por norma, há uma reação da população que atira pedras ou faz agressões verbais”, alerta o representante da PSP.
Além disso, com o aumento de agentes efetivos nas esquadras, seria possível evitar alguns conflitos. Isto porque, explica Paulo Rodrigues, antes da equipa de intervenção rápida ao local do incidente “vai um carro com apenas dois agente efetivos”. Um número de agentes que não “é suficiente” para evitar confrontos. Um resultado que seria diferente, defende o presidente da ASPP, caso cada carro tivesse seis agentes: “Poderia ser disuasor do confronto”.