Tancos. António Costa acordou ao fim de 15 dias e desmentiu Azeredo Lopes

O ministro da Defesa tinha admitido que as armas tivessem ido parar a redes terroristas. Costa foi informado que não haveria qualquer risco desses

O assalto a Tancos foi há 15 dias. Ontem, pela primeira vez, o primeiro-ministro voltou ao ativo – política e publicamente.

Numa reunião em São Bento, acabou por dizer que antes de partir de férias tinha sido informado do baixo risco do assalto a Tancos, nomeadamente da quase impossibilidade das armas irem parar a uma rede terrorista – precisamente o contrário do que o ministro Azeredo Lopes disse em entrevista à SIC. Também o Ministério Público está a investigar a possibilidade das armas terem ido parar a redes terroristas.

António Costa deu a entender que ficou descansado com as informações que recolheu antes de partir de férias. Depois de uma reunião da Unidade de Coordenação Anti-terroristas “onde se fez uma primeira avaliação, verificou-se então que, com grande probabilidade, este acontecimento não teria qualquer impacto no risco da segurança interna, designadamente associação a qualquer risco de atividade terrorista nacional ou internacional”. Costa vincou que “essa garantia” foi-lhe “diretamente transmitida pela secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, procuradora Helena Fazenda”.

Ao ministro da Defesa é que a garantia não chegou. Azeredo Lopes admitiu expressamente que as armas roubadas de Tancos poderiam servir “redes clandestinas de tráfico ou que possam indiretamente contender com a nossa segurança”. “Tenho de dizer que é uma situação grave”, disse na altura o ministro. Costa não achou e partiu para Palma de Maiorca.

Apesar desta mais do que evidente descoordenação entre primeiro-ministro e ministro da Defesa, Costa manifestou a sua confiança em José Azeredo Lopes, que “tem toda a confiança do primeiro-ministro para o exercício das suas funções”. Azeredo, segundo Costa, “exerceu as suas funções como é função do senhor ministro da Defesa”.

Mais enfáticos foram os elogios de Costa ao Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte – que tem estado sob grande contestação dentro das suas fileiras.

“Agradeço a hombridade com que as Forças Armadas, e em particular o Chefe do Estado-Maior do Exército, assumiram as responsabilidades relativamente a esta matéria. Quero manifestar a total solidariedade com o Chefe do Estado-Maior do Exército e a forma como tem exercido o seu comando e o continuará a exercer”, disse o primeiro-ministro, manifestando uma prova de confiança em Rovisco Duarte em consonância com o Presidente da República.

Remodelação para a semana

Mais depressa sairá Azeredo Lopes do que Constança Urbano de Sousa, mas é provável que se mantenham os dois. Segundo fontes socialistas – que coincidem com fontes de Belém – fazer sair de cena Constança Urbano de Sousa para desgastar outro ministro quando a época de incêndios ainda vai no início não faz politicamente sentido. Mas a decisão está na cabeça de Costa, que resolveu esperar pela próxima semana, quando o Presidente voltar do México, para dar posse aos novos secretários de Estado que têm que assumir os cargos de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira.

À boleia, sairão mais governantes que já tinham pedido para sair. É o caso do secretário de Estado da Presidência, Miguel Prata Roque e da secretária de Estado da Administração Pública, Carolina Ferro.

Hoje, Costa estará no parlamento a debater o estado da nação. Para aconchegar o seu otimismo irritante, mesmo no meio do pior dos temporais, tem a perspetiva de ver como futuro líder parlamentar do PSD o jovem e pouco experiente Hugo Soares.