Portugal – capital do Islão esclarecido e pacífico?

Crítico do choque das civilizações, o príncipe Aga Khan é defensor e estimulador de um Islão esclarecido, em detrimento de um Islão ignorante e radical. É um defensor do Islão pacífico, condenando todas as interpretações e ações radicais, não confundindo tolerância com indiferença

«Os homens de carácter firme são as colunas-mestras da sociedade a que pertencemos».

Ralph W. Emerson

 

No próximo dia 20, a Universidade Nova de Lisboa irá atribuir o título de doutor honoris causa a Sua Alteza Shah Karim al-Hussein, príncipe Aga Khan.

É o reconhecimento do nosso país pela obra que o líder espiritual dos ismaelitas tem feito por todo o mundo nas últimas seis décadas, nas mais variadas áreas: política, diplomacia, e sobretudo sociocultural.

 Aliás, esta distinção atribuída por uma das mais prestigiadas universidades portuguesas acontece quando o príncipe Aga Khan já tem em curso os procedimentos para instalar em Portugal a sede mundial desta comunidade religiosa.

A inaugurar em 2018, no Palácio Henrique de Mendonça (junto ao Corte Inglés de Lisboa), pode afirmar-se que esta sede dará a Portugal o estatuto de ‘capital do Islão esclarecido e pacífico’. A sede mundial do Imamat Ismaili vem reforçar ainda mais a importância de Portugal como país tolerante e de diálogo intercultural e inter-religioso. Tirando partido da sua posição geográfica – entre o triângulo Europa-África-Médio Oriente e o Atlântico – para a resolução de conflitos e a promoção do desenvolvimento sustentável.

O Príncipe Aga Kahn, descendente direto do profeta Maomé, é o quadragésimo nono imã e o líder espiritual dos muçulmanos xiitas ismaelitas.

Comunidade de cerca de quinze milhões de pessoas a viverem em trinta países e sete regiões do mundo, conta em Portugal com cerca de sete mil elementos, muitos com raízes em Moçambique e no Paquistão.

A rede Aga Khan e a sua Fundação investem anualmente perto de 900 milhões de euros, com enfoque especial na cultura e no combate à pobreza. Organizada em onze agências, constituindo uma rede integrada e funcional, dela fazem inclusivamente parte estabelecimentos de ensino superior, como a Universidade da Ásia e a Universidade Aga Khan.

Presente em Portugal desde 1983, tem já um trabalho acumulado muito significativo, feito quer em parcerias com o Estado português (através de instituições públicas) quer em colaboração com instituições não públicas, dos sectores culturais, sociais e da solidariedade.

Do trabalho e do mandato do descendente direto do profeta Maomé fazem parte a efetiva interpretação da fé e a diminuição das desigualdades económicas e sociais – promovendo o ensino igualitário entre homens e mulheres, e daí a aposta no ensino pré-universitário e universitário.

Crítico do choque das civilizações, o príncipe Aga Khan é defensor e estimulador de um Islão esclarecido, em detrimento de um Islão ignorante e radical. É um defensor do Islão pacífico, condenando todas as interpretações e ações radicais, não confundindo tolerância com indiferença.

A rede Aga Khan para o desenvolvimento dedica também muito do seu trabalho ao fenómeno da imigração, sendo impulsionadora de uma integração dos cidadãos enquanto migrantes nas sociedades de acolhimento. A sede mundial do dito Islão ‘esclarecido e pacífico’ será inaugurada no próximo ano e terá cerca de 500 funcionários. Cinco centenas! Portugal foi o primeiro Estado não muçulmano a celebrar acordos com o Imamat. E reconheceu à rede Aga Khan um estatuto jurídico e diplomático semelhante ao semi-Estado que é o Vaticano.

A importância da sede desta rede Aga Khan também se reflectirá na relação de Portugal com países de África e da Ásia.

 

olharaocentro@sol.pt