Herdeiro de uma dívida que ultrapassava os 20 milhões de euros em 2013, Bernardino Soares vai a eleições para a presidência da Câmara Municipal de Loures num cenário consideravelmente diferente depois de ter conquistado a autarquia a Carlos Teixeira, do Partido Socialista, nas últimas eleições autárquicas.
O recandidato da CDU – Coligação Democrática Unitária – liderou um processo de consolidação orçamental a partir de poupanças nas avenças municipais, na redução de veículos da Câmara e na utilização de telecomunicações nas estruturas da autarquia. Antes de iniciar o processo, o autarca comunista realizou uma auditoria às contas locais. Bernardino Soares tem optado por preservar uma gestão «sem prejuízo dos critérios de qualidade», assegura o próprio. A alteração de fornecedor para as refeições das escolas de Loures foi o exemplo dado, numa lógica de «combate ao desperdício» e da redefinição dos critérios de adjudicação de concursos como o já mencionado. O objetivo, desde o início do mandato, foi «retomar a credibilidade perdida» do antecessor socialista. Escusado será dizer que possibilidades de ‘geringonça’ em Loures não houve.
A Câmara de Loures tinha em 2013 20 milhões de euros só em compromissos já assumidos e cerca de 64 milhões em dívida acumulada. «Dramático» foi o adjetivo selecionado à data pelo candidato da CDU para descrever o cenário. Em 2015, Bernardino reduziu a dívida na quantia impressionante de 18,4 milhões a partir da estratégia acima descrita.
Depois de ter sido membro da Juventude Comunista e deputado durante cinco legislaturas, chegando a líder do grupo parlamentar ainda bastante jovem, Soares tem, aos 45 anos, ambições de fazer crescer a percentagem de 34,74% com que ‘roubou’ a Câmara ao PS depois de uma dúzia de anos de domínio ‘rosa’. «Não tenho nenhuma outra pretensão, estou muito entusiasmado com o trabalho aqui em Loures e é aqui que me revejo a continuar a trabalhar», garantiu, ainda em finais do ano passado.
O facto de não ter conseguido maioria absoluta em 2013 e de ter beneficiado de um acordo com o PSD, é dado que não parece repetível, na medida em que o autarca veterano dos sociais-democratas que assumiu um pelouro no executivo camarário da CDU, Fernando Costa, será este ano candidato à Câmara de Leiria. No seu lugar, surge um quadro menos distante da direção de Passos Coelho e, assim, mais distante de qualquer acordo com o PCP.
O problema para Bernardino Soares é que, se não conseguir a maioria absoluta, fica sem ninguém com quem selar pacto para governar. É que, em 2013, o PS recusou conversar com Bernardino. E Loures só teve duas maiorias absolutas na sua história.
Para combater o histórico de supremacia da esquerda – entre o PCP e o PS – em Loures, a direita juntou-se como não fez em 2013. A coligação entre PSD, CDS-PP e PPM (num renascimento da velha AD) apresenta como candidato o comentador e professor universitário André Ventura.
Eleito dirigente para o Conselho Nacional do PSD em 2015, Ventura é uma personalidade conhecida nos meios futebolísticos, fazendo parte de um programa de comentário na estação televisiva do Correio da Manhã, onde é assumidamente defensor do Benfica. Além disso, mantém também uma coluna de opinião na publicação impressa do mesmo órgão de comunicação social, sobre análise política e de Direito, que é a sua especialidade académica.
As suas prioridades vão para um reforço no investimento das forças de segurança, nomeadamente para a Polícia Municipal, e no «apoio às famílias» .
Ventura foi alvo recente de uma queixa do Bloco de Esquerda à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação por ter afirmado: «Temos tido uma excessiva tolerância com alguns grupos e minorias étnicas». O deputado Pedro Filipe Soares acusou Ventura de ter «o sonho de ser Trump». Na apresentação da candidatura, Pedro Passos Coelho comparou ironicamente António Costa ao presidente dos Estados Unidos. Animação parece não vir a faltar na campanha em Loures.