Centeno bate recorde de cativações dos últimos oito anos

Governo cativou 1746,2 milhões de euros em 2016. Valor mínimo foi em 2009, 624 milhões

As cativações são desde há anos instrumento usado pelos governos para tentar controlar a despesa e manter a meta do défice. O atual não é exceção e o tema foi trazido ao debate político a propósito das restrições impostas pelo atual ministro das Finanças, Mário Centeno, à execução do Orçamento do Estado para 2016 (OE2016). Os deputados quiseram saber quanto ficou por gastar e em que áreas.  

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) analisou – dentro da sua aferição da execução orçamental até junho – as cativações de despesa feitas pelos vários governos ao longo dos últimos oito anos e revelou, ontem, que “para o período analisado, os montantes cativados variaram entre um valor mínimo de 624 milhões de euros, em 2009, e 1746,2 milhões de euros, em 2016”.

A cativação de dotações de despesa consiste na “retenção de verbas” já previstas no Orçamento do Estado, que se traduz numa “redução da dotação utilizável pelos serviços e organismos”, na medida em que a sua libertação – a chamada descativação – “é sujeita à autorização do Ministro das Finanças, que decide em função da evolução da execução orçamental e das necessidades de financiamento”.

De acordo com a análise da UTAO, a taxa de utilização das verbas retidas em 2010, foi de 40,3% quando “foram descativados 554,4 milhões de euros e permaneceram por utilizar 822,9 milhões de euros. No ano passado, verificou-se “uma taxa de utilização de 46%” – descativados 803,6 milhões de euros, tendo ficado por utilizar 942,7 milhões de euros.

Percentagem da despesa

Este valor cativado representou 1,5% da despesa do ano, ficando próximo dos 1,4% cativados em 2010, ano em que era ministro das Finanças Teixeira dos Santos.

Segundo o governo, dos quase 943 milhões de euros cativados finais, 617 milhões de euros foram despesa financiada por receitas próprias e 295 milhões de euros despesa financiada por receitas gerais (impostos) sem utilização possível.

O OE2016 continha a cativação de 12,5% das despesas afetas a projetos com financiamento nacional e de 15% das despesas com aquisição de bens e serviços. “De referir que para além dos cativos determinados pela Lei do OE/2016, o Decreto-Lei de Execução Orçamental determinou a cativação de dotação orçamental de despesas com pessoal”, escreve a UTAO, assinalando ainda que o governo determinou para este ano a cativação de dotação orçamental em “despesas com pessoal, outras despesas correntes, transferências para fora das administrações públicas e aquisição de alguns bens e serviços”.

A equipa que apoia os deputados em questões orçamentais revelou ainda que a área do Planeamento e Infraestrutura foi a área com maiores montantes iniciais e finais. Os programas com maiores taxas de descativação foram os do Ensino Básico e Secundário e Administração Escolar e da Justiça. Em terceiro lugar surge a Segurança Interna. Os que tiveram menores taxas de descativação foram os programas da Saúde e da Cultura.