Afeganistão. Trump vai a uma guerra sem vitória

Trump apresentou uma nova estratégia que, na realidade, quase não muda nada na guerra mais prolongada da história dos EUA.

Os generais americanos de que Donald Trump se rodeou convenceram-no a abandonar as hesitações passadas sobre a guerra afegã e a entrar pelo mesmo caminho que os dois antecessores: enviar mais militares para a mais prolongada guerra dos Estados Unidos, ainda sem um critério que permita saber, pelo menos na perspetiva americana, o que é uma vitória. E isso mesmo que o presidente americano insista em dizer que é isso mesmo que espera: “No final venceremos”, anunciou Trump na noite de segunda – já madrugada desta terça-feira em Portugal.

O presidente americano tenta apresentar o reforço de tropas no Afeganistão como uma nova estratégia, diferente dos esforços falhados dos anteriores governos e que parecem indisputáveis.

Obama enviou 30 mil militares e chegou a atingir os 100 mil homens no Afeganistão, dos quais hoje restam apenas à volta de oito mil soldados. Mas os talibãs estão mais poderosos do que em qualquer outro momento desde a invasão de 2001.

O governo afegão controla apenas 65% do país e os ataques suicidas são cada vez mais frequentes e mortíferos. No final de maio, só um camião-bomba matou mais de 150 pessoas em Cabul. E, segundo as Nações Unidas, morreram desde janeiro até julho 1662 civis em ataques terroristas.

Trump, que na campanha foi um dos mais vociferantes críticos das guerras no Iraque e Afeganistão – mesmo que no passado tenha argumentado o contrário –, não diz quantos novos soldados vai enviar, quando o fará e com que objetivo final.

O presidente americano diz que, em parte, o segredo é a chave do plano – argumenta que um calendário para o regresso das tropas só enviaria os talibãs para os seus esconderijos.

Mas de resto – e do que se conhece –, o suposto novo plano de Trump é muito semelhante ao que foi anunciado por Obama: reforçar o número de tropas – a imprensa fala em mais 4 mil militares –, combater a corrupção em Cabul, pressionar o vizinho Paquistão e treinar as tropas locais.

Trump, em todo o caso, não o admite: “Não estamos de regresso à construção de países. Estamos a matar terroristas.”

Influência

Desde o início do mandato de Trump que a guerra afegã está sob avaliação. Dezasseis anos de conflito assim o exigiam – 2371 militares mortos e 783 mil milhões de dólares também – e o impulso do presidente, como ele próprio admitiu na segunda-feira, era o de abandonar o país invadido.

“O meu instinto inicial era retirar-me do país e, historicamente, gosto de seguir os meus instintos”, lançou numa base nos arredores de Washington.

“Em toda a minha vida ouvi dizer que as decisões se tomam de maneira muito diferente quando se está atrás da secretária da Sala Oval”, explicou, indicando aquilo que publicações como o “New York Times” descreviam esta terça: foram os generais que ao longo de meses convenceram o presidente e a decisão só aconteceu com a última reestruturação governamental.

Trump concordou com o reforço de tropas na passada sexta-feira, aceitando o argumento de que não o fazer daria a grupos como o autoproclamado Estado Islâmico um novo berço na região – como aconteceu no Iraque quando as tropas americanas se retiraram.

As duas hipóteses alternativas eram a retirada completa, por um lado, e fazer do Afeganistão uma base única para os serviços de espionagem e operações especiais americanos – uma opção que desagradou à liderança da CIA, segundo o “New York Times”.

As peças fundamentais parecem ter sido a entrada do novo chefe de gabinete da Casa Branca, John F. Kelly – mais um general aposentado –, e a saída do conselheiro Steve Bannon, que defendeu internamente o envio de mercenários e empresas de segurança privadas para fazerem o lugar das tropas americanas no Afeganistão.